Demências: Novo Exame de Sangue Identifica Risco Antes dos Sintomas
- Lidi Garcia
- 20 de mar.
- 4 min de leitura

Pesquisadores estudaram biomarcadores no sangue para prever a demência com corpos de Lewy (DLB), uma doença neurodegenerativa. Eles analisaram amostras de 158 pessoas com um distúrbio do sono ligado a doenças como DLB e Parkinson. Descobriram que baixos níveis da proteína Aβ42 e altos níveis de pTau181 no sangue estavam associados ao desenvolvimento de DLB. Esses achados sugerem que exames de sangue podem ajudar a identificar precocemente quem tem maior risco de desenvolver essa condição.
Um biomarcador é qualquer substância ou característica biológica que pode ser medida no corpo e utilizada para indicar um processo normal, uma doença ou a resposta a um tratamento. Eles podem ser encontrados em sangue, urina, saliva, líquido cefalorraquidiano ou até mesmo em exames de imagem, como ressonância magnética.
No caso de doenças neurodegenerativas como o Alzheimer e a demência com corpos de Lewy (DLB), biomarcadores no sangue ou no líquido cefalorraquidiano podem indicar a presença de proteínas anormais (como amiloide-β e pTau181), ajudando no diagnóstico precoce e no acompanhamento da progressão da doença.
Os biomarcadores sanguíneos para a doença de Alzheimer (DA) vêm sendo amplamente estudados como possíveis indicadores de neurodegeneração. No entanto, a patologia da doença de Alzheimer também pode estar presente em outras doenças neurodegenerativas, como a demência com corpos de Lewy (DLB).

Considerando que o transtorno comportamental do sono REM idiopático/isolado (iRBD) é frequentemente um estágio inicial dessas doenças neurodegenerativas, os pesquisadores levantaram a hipótese de que biomarcadores associados à doença de Alzheimer no sangue poderiam prever a conversão de iRBD para a demência com corpos de Lewy.
O objetivo deste estudo foi avaliar se os biomarcadores plasmáticos amiloide-β (Aβ) e pTau181 podem prever o desenvolvimento de demência com corpos de Lewy em uma coorte de pacientes com iRBD.
Para isso, foi realizado um estudo longitudinal com 158 indivíduos diagnosticados com iRBD por polissonografia, recrutados entre 2004 e 2022 no Canadá. Todos os participantes forneceram amostras de plasma sanguíneo e foram acompanhados prospectivamente ao longo do tempo.
O acompanhamento permitiu avaliar quais desses indivíduos desenvolveram alguma síndrome neurodegenerativa, com foco especial na conversão para demência com corpos de Lewy.

Os níveis sanguíneos dos biomarcadores Aβ40, Aβ42 e pTau181 foram medidos usando o painel NeuroToolKit, um conjunto de testes desenvolvido para detectar proteínas relacionadas à neurodegeneração.
O principal objetivo da análise foi verificar se os níveis dessas proteínas no sangue, medidos no início do estudo, estavam associados ao desenvolvimento posterior de demência com corpos de Lewy. Além disso, os pesquisadores avaliaram se havia correlação entre esses biomarcadores e o desempenho dos participantes em testes cognitivos iniciais.
Após a exclusão de alguns participantes, a análise final incluiu 142 indivíduos, sendo 77% homens, com idade média de 67,6 anos. Durante o período de acompanhamento (em média, 2,9 anos após a coleta das amostras de sangue), 32 indivíduos desenvolveram alguma síndrome neurodegenerativa.
Dentre esses, 18 foram diagnosticados com demência com corpos de Lewy, 13 com doença de Parkinson e 1 com atrofia de múltiplos sistemas.

Os resultados mostraram que os indivíduos que desenvolveram alguma dessas doenças apresentavam, já na fase inicial do estudo, uma menor razão entre Aβ42 e Aβ40 no plasma e níveis mais elevados de pTau181.
Quando a análise foi focada especificamente nos indivíduos que desenvolveram demência com corpos de Lewy, as diferenças foram ainda mais evidentes. A razão Aβ42/40 foi ainda menor nesses pacientes, e os níveis de pTau181 foram significativamente mais altos.
Além disso, análises transversais indicaram que os níveis plasmáticos de pTau181 estavam associados a déficits em testes cognitivos, sugerindo que esse biomarcador pode estar relacionado ao comprometimento cognitivo mesmo antes da conversão para demência com corpos de Lewy. No entanto, a razão Aβ42/40 não demonstrou a mesma correlação com os testes cognitivos.
Esses achados sugerem que os biomarcadores Aβ42/40 e pTau181 no sangue podem ser úteis para prever a conversão de iRBD para demência com corpos de Lewy.
A identificação precoce desses pacientes pode permitir intervenções mais eficazes e melhorar o monitoramento clínico, possibilitando uma abordagem mais direcionada para retardar ou gerenciar o avanço da doença.
LEIA MAIS:
Plasma pTau181 and amyloid markers predict conversion to dementia in idiopathic REM sleep behaviour disorder
Aline Delva, Amélie Pelletier, Emma Somerville, Jacques Montplaisir, Jean-François Gagnon, Gwendlyn Kollmorgen, Tony Kam-Thong, Thomas Kustermann, Venissa Machado, Ziv Gan-Or and Ronald B Postuma
Brain. awaf003, 6 January 2025
DOI: 10.1093/brain/awaf003
Abstract:
Blood-based biomarkers for Alzheimer’s disease (AD) pathology have been intensively investigated as markers for AD-related neurodegeneration. Comorbid AD pathology is common in dementia with Lewy bodies (DLB). Accordingly, we hypothesized that plasma biomarkers associated with AD pathology might be useful to predict DLB in a cohort of idiopathic/isolated REM sleep behavior disorder (iRBD), an incipient synucleinopathy. The aim of this study was to determine whether plasma amyloid-β and pTau181 biomarkers can predict DLB. This longitudinal single-center (Canada) cohort study included 158 polysomnography-confirmed iRBD individuals between September 2004 and October 2022, each providing blood plasma samples, who were then offered prospective follow-up. Plasma Aβ40, Aβ42 and pTau181 levels were measured using NeuroToolKit, a prototype assays panel of neurodegeneration (Roche Diagnostics International Ltd). The primary outcome was the association between plasma biomarkers at baseline and eventual development of DLB. Correlations between plasma markers and baseline cognitive tests were assessed. A total of 142 iRBD participants (109 men [77%], mean ± SD age, 67.6 ± 8.0 years) were included in the final analysis. On prospective follow-up (2.9 ± 2.1 years after sampling), 32 individuals phenoconverted to a defined neurodegenerative syndrome (18 DLB, 13 PD, 1 MSA). The combined phenoconvertor group had lower baseline plasma Aβ42/40 ratio compared to non-phenoconvertors (mean ± SD, 0.103 ± 0.010 vs. 0.114 ± 0.012, p < 0.001), and higher pTau181 levels (0.993 ± 0.354 vs. 0.784 ± 0.266pg/ml, p = 0.008). When divided by phenoconversion subtype, significant differences were seen selectively in DLB-convertors (Aβ42/40 = 0.101 ± 0.010, difference -0.011, 95% CI [-0.016; -0.005], p < 0.001; pTau181 = 1.144 ± 0.326 pg/ml, difference 0.282 pg/ml, 95% CI [0.146; 0.418], p < 0.001). Cross-sectional analysis showed that plasma pTau181 (but not Aβ42/40) correlated with cognitive tests across various domains. Our results indicate that plasma Aβ42/40 ratio and pTau181 can predict conversion to DLB in iRBD.
Comments