
Este estudo investigou como diferentes emoções podem influenciar as decisões de risco. Os resultados mostraram que as emoções tiveram um impacto maior nas decisões relacionadas a situações incertas (onde faltavam informações claras) e esse efeito foi mais forte nos homens. Isso sugere que as emoções, especialmente em situações de ambiguidade, podem influenciar de forma diferente homens e mulheres quando enfrentam decisões arriscadas.
Emoções incidentais são aquelas que surgem de situações ou contextos não relacionados diretamente a uma tarefa ou decisão específica, mas que acabam influenciando o comportamento ou a tomada de decisão de forma indireta.
Por exemplo, sentir-se triste após um evento pessoal pode afetar a disposição de uma pessoa para assumir riscos em uma decisão financeira. Estudos mostram que homens e mulheres podem experimentar e reagir a essas emoções de maneira diferente.
Em geral, os homens podem ser mais suscetíveis aos efeitos dessas emoções em decisões arriscadas, enquanto as mulheres podem reagir de formas distintas, dependendo do tipo de emoção envolvida.
Essas diferenças de gênero na forma como as emoções incidentais impactam a tomada de decisão são uma área de estudo importante na psicologia e na economia comportamental.

Este artigo, publicado por pesquisadores da University of Essex, UK, investiga como emoções incidentais, que surgem em um determinado contexto, podem influenciar decisões em áreas aparentemente não relacionadas.
O foco principal é entender como essas emoções impactam escolhas envolvendo risco e ambiguidade.
Para entender melhor o impacto das emoções na tomada de decisões, os pesquisadores realizaram um experimento comparando duas maneiras diferentes de preparar emocionalmente as pessoas.
Na primeira abordagem, usaram um estímulo convencional, ou seja, algo planejado para evocar uma emoção específica, como o medo. Um exemplo disso poderia ser assistir a um vídeo assustador.
Já na segunda abordagem, eles usaram um estímulo mais naturalista, ou seja, algo mais próximo das emoções que sentimos no dia a dia, como saber de uma notícia preocupante, como um ataque terrorista ou uma tragédia. Esse estímulo naturalista tende a gerar uma mistura de emoções negativas, como medo, tristeza e raiva, ao invés de uma única emoção, como acontece no primeiro caso.
O objetivo era comparar como essas duas formas de preparação emocional influenciam a maneira como as pessoas tomam decisões, especialmente quando elas envolvem risco ou incerteza.
A pesquisa baseia-se em uma vasta literatura que demonstra como emoções incidentais podem afetar percepções e decisões arriscadas. Desde o trabalho pioneiro de Johnson e Tversky em 1983, estudos mostraram que o humor pode influenciar a forma como as pessoas percebem o risco.

Mais recentemente, pesquisas em psicologia e economia exploraram como essas emoções afetam escolhas incentivadas financeiramente, indicando que as decisões sob risco não são apenas racionais, mas também influenciadas por estados emocionais prévios.
Uma das principais inovações deste estudo é o uso de estímulos emocionalmente ricos e naturalistas em vez de métodos tradicionais, como clipes de filmes que provocam emoções específicas.
Eventos do mundo real, como ataques terroristas, podem desencadear uma variedade de emoções, medo, raiva, tristeza, que segundo os autores, refletem melhor as complexidades emocionais enfrentadas no dia a dia.
A pesquisa buscou determinar se essas emoções mais complexas têm um efeito diferente nas decisões arriscadas em comparação com emoções simples e isoladas.
Os pesquisadores também testaram se as emoções geradas pelos diferentes tipos de estímulos (direcionados ou naturalistas) influenciaram as escolhas financeiras dos participantes.
A existência de efeitos de transferência é testada comparando avaliações de loterias (arriscadas e ambíguas) nos tratamentos direcionados e naturalistas em relação às avaliações correspondentes no tratamento de controle.
Eles fizeram isso comparando como os participantes avaliavam "loterias" (uma forma de escolher entre opções com diferentes probabilidades de ganho) em três condições diferentes: após um estímulo emocional direcionado (como o medo), após um estímulo naturalista (com emoções mais complexas, como as geradas por eventos reais), e no grupo de controle (sem estímulo emocional).

As loterias avaliadas pelos participantes eram de dois tipos: arriscadas e ambíguas. Na tarefa de loteria arriscada, os participantes tinham 50% de chance de ganhar £12 ou nada, ou seja, a probabilidade de ganhar era clara e definida.
Já na tarefa de loteria ambígua, os participantes não sabiam qual era a probabilidade exata de ganhar os £12, tornando a decisão mais incerta.
A ideia era observar se o tipo de estímulo emocional (medido nas duas abordagens, direcionado e naturalista) influenciava as escolhas dos participantes, comparando suas respostas em relação ao grupo de controle. Ou seja, o estudo procurava entender se emoções geradas por diferentes tipos de estímulos alteravam a disposição dos participantes em tomar decisões arriscadas ou ambíguas.
Os resultados do estudo revelaram que efeitos de transferência emocional ocorrem de forma significativa, especialmente quando os participantes foram expostos a estímulos naturalistas.
O impacto das emoções na tomada de decisões foi mais forte quando as pessoas enfrentavam situações ambíguas, ou seja, aquelas onde não havia informações claras e definitivas, do que quando estavam lidando com situações de risco bem definidas, onde as chances de sucesso ou falha eram mais claras.

Avaliações médias de loteria divididas por gênero. Concentrando-se primeiro nas avaliações arriscadas no painel esquerdo, observamos efeitos de tratamento específicos de gênero: para os homens, em comparação com o controle, as avaliações arriscadas são menores no tratamento direcionado e ainda menores no tratamento naturalista. O comportamento feminino, por outro lado, não exibe esse padrão: as avaliações arriscadas não são significativamente diferentes do controle nos tratamentos direcionado e naturalista. Isso leva ao seguinte resultado principal: observamos efeitos de transferência na tomada de decisão arriscada e esses efeitos são mais fortes para o estímulo naturalista, mas apenas os homens são suscetíveis.
Além disso, os pesquisadores notaram que os efeitos das emoções nas decisões foram mais evidentes nos homens do que nas mulheres, indicando que os homens podem ser mais influenciados pelas emoções na hora de tomar decisões arriscadas.
Isso sugere que pode haver uma diferença de gênero em como as emoções afetam o comportamento das pessoas ao fazer escolhas relacionadas a riscos e incertezas.
Ao analisar a base emocional desses efeitos, o estudo encontrou que, embora os estímulos convencionais aumentassem relatos de medo, não havia uma correlação direta entre essas emoções e o comportamento de risco.
No caso dos estímulos naturalistas, a forte resposta emocional não se traduziu diretamente em decisões arriscadas, indicando que uma mistura de emoções pode influenciar o comportamento de maneiras complexas e interativas.
Em conclusão, o estudo destaca que emoções complexas, provocadas por eventos realistas, podem ter um impacto mais profundo e variado em decisões de risco e ambiguidade.
Isso desafia a visão simplificada de que emoções isoladas, como o medo, são os principais motores dessas decisões, sugerindo que o contexto emocional mais rico e realista deve ser considerado em futuras pesquisas sobre o impacto das emoções na tomada de decisão.
LEIA MAIS:
Do emotional carryover effects carry over?
Nikhil Masters, Tim Lloyd, and Chris Starmer
Journal of Behavioral and Experimental Economics. Volume 114, February 2025, 102312
Abstract:
Existing research has demonstrated carryover effects whereby emotions generated in one context influence decisions in other, unrelated ones. We examine the carryover effect in relation to valuations of risky and ambiguous lotteries with a novel focus on the comparison of carryovers arising from a targeted stimulus (designed to elicit a specific emotion) with those arising from a naturalistic stimulus (designed to produce a more complex emotional response). We find carryover effects using both types of stimuli, but they are stronger for the naturalistic stimulus and in the context of ambiguity, providing a proof of concept that carryover effects can be observed when moving away from highly stylised settings. These effects are also gender specific with only males being susceptible. To probe the emotional foundations of the carryover effect, we conduct analysis relating individual self-reports of emotions to valuation behaviour. Our results cast doubt on some previously claimed links between specific incidental emotions and risk taking.
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