
O estudo mostrou que, através de exames de eletroencefalografia, uma atividade elétrica do cérebro reduzida pode ser um sinal de alerta precoce para a depressão em adolescentes de alto risco. Essa descoberta pode ajudar médicos e terapeutas a identificar jovens que precisam de intervenção precoce, potencialmente prevenindo o desenvolvimento de depressão severa.
A adolescência é uma fase crucial da vida em que muitos jovens estão mais propensos a desenvolver problemas de humor e ansiedade. Quase metade desses transtornos é diagnosticada antes dos 18 anos.
Quando um adolescente enfrenta um episódio de ansiedade ou depressão, os efeitos podem ser duradouros, afetando suas relações sociais, desempenho escolar e até mesmo sua autoestima.
Esses transtornos estão intimamente ligados, e pesquisas mostram que a ansiedade, a depressão e o suicídio frequentemente estão conectados. Portanto, descobrir formas de identificar esses problemas precocemente é muito importante para prevenir complicações futuras.
Uma área promissora de pesquisa é o estudo de biomarcadores, sinais biológicos que ajudam a prever a ocorrência de doenças. No caso da depressão e da ansiedade, os cientistas estão interessados em entender como o cérebro processa recompensas.

Isso porque, em pessoas com depressão, o cérebro responde de forma diferente a experiências de recompensa, como ganhar um jogo ou receber um elogio.
Estudos mostram que indivíduos com depressão apresentam uma ativação menor em uma área do cérebro chamada estriado, que está envolvida no processamento de recompensas.
Eles também têm dificuldades em aprender com experiências positivas, sentir prazer e ajustar suas expectativas baseadas em resultados anteriores.
Neste estudo, os pesquisadores da University of Calgary, Canada, focaram em como o cérebro de adolescentes responde a recompensas, pois acreditam que isso pode ajudar a identificar aqueles que estão em risco de desenvolver depressão ou ansiedade.
A adolescência é um período em que o cérebro está particularmente sensível a recompensas, o que pode tornar os jovens mais vulneráveis a problemas de humor, especialmente se eles já têm uma resposta cerebral alterada a essas experiências.
Adolescentes com histórico familiar de depressão frequentemente mostram uma resposta cerebral mais fraca a recompensas, o que pode indicar um risco aumentado de desenvolver transtornos de humor.

Os cientistas usam uma técnica chamada eletroencefalografia (EEG) para medir a atividade elétrica do cérebro. Um tipo específico de sinal medido é o "Potencial Relacionado a Evento de Recompensa" (RewP). Esse sinal reflete como o cérebro reage a eventos positivos e é uma forma de estudar a resposta do sistema de recompensa.
Pesquisas anteriores mostram que adolescentes com um RewP reduzido têm mais chances de desenvolver depressão. Esse padrão de resposta cerebral parece ser um indicador confiável de risco, mesmo quando se leva em conta outros fatores, como o histórico de depressão na família.
O estudo em questão analisou adolescentes de 11 a 17 anos, todos com pelo menos um dos pais com histórico de transtornos de humor ou ansiedade. Os pesquisadores mediram o RewP desses adolescentes e acompanharam seu estado de saúde mental ao longo de 18 meses.
Descobriu-se que aqueles com um RewP mais baixo tinham uma probabilidade maior de desenvolver depressão, enquanto o RewP não foi um bom preditor para o início de transtornos de ansiedade ou pensamentos suicidas.

Esta figura mostra como o cérebro responde a recompensas em dois grupos de participantes: aqueles que não desenvolveram depressão (A, sem TDM) e aqueles que tiveram o primeiro episódio de transtorno depressivo maior (B, TDM) durante o acompanhamento. As linhas nos gráficos representam as respostas cerebrais a ganhos e perdas, medidas por um teste de potencial relacionado a eventos (ERP) na região do cérebro chamada FCz. A diferença na resposta a ganhos e perdas é chamada de "positividade da recompensa" (RewP), analisada em uma janela de tempo específica (250 a 350 milissegundos após o estímulo). As imagens mostram como essas respostas se distribuem no couro cabeludo, e um mapa de calor final visualiza como as respostas individuais mudam ao longo do tempo, destacando diferenças entre os grupos.
Isso sugere que o RewP pode ser um marcador específico para o risco de depressão em adolescentes que já estão predispostos devido ao histórico familiar.
Por outro lado, a relação entre ansiedade, suicídio e o RewP é menos clara, com alguns estudos mostrando resultados mistos. Portanto, mais pesquisas são necessárias para entender completamente esses vínculos.
Em conclusão, o estudo mostrou que um RewP reduzido pode ser um sinal de alerta precoce para a depressão em adolescentes de alto risco. Essa descoberta pode ajudar médicos e terapeutas a identificar jovens que precisam de intervenção precoce, potencialmente prevenindo o desenvolvimento de depressão severa.
Utilizar o RewP como uma ferramenta de triagem, juntamente com a observação de sintomas relatados pelos próprios adolescentes, pode melhorar significativamente as estratégias de prevenção e tratamento.
LEIA MAIS:
The Reward Positivity As a Predictor of First-Lifetime Onsets of Depression, Anxiety, and Suicidal Ideation in High-Risk Adolescents
Gia-Huy L. Hoang, Kent G. Hecker, Connor Maxey, Ford Burles, Olave E. Krigolson, Daniel C. Kopala-Sibley
Biological Psychiatry: Cognitive Neuroscience and Neuroimaging, Available online 9 November 2024
Abstract:
Reduced reward positivity (RewP), an electroencephalography marker elicited by feedback indicating reward, has been associated with an increased risk for depression during adolescence. However, the ability of the RewP to predict the first-lifetime onset of depressive disorders, as opposed to anxiety and suicidal ideation in high-risk populations, has not been thoroughly investigated. In this study, we examined whether the RewP predicts the first-lifetime onset of depression, anxiety, and suicidal ideation over 18 months in familial high-risk adolescents. The sample included 145 adolescents (64.8% female), ages 11 to 17 years, who had at least 1 parent with a history of mood or anxiety disorders and completed baseline and at least 1 follow-up measurement. At baseline, the RewP was measured using a simple gambling task; current internalizing symptoms were assessed using self-report questionnaires; and the adolescent’s psychiatric diagnoses were evaluated with diagnostic interviews. The same interview was administered to the adolescents again 9 months and 18 months later. Logistic regression models showed that higher RewP scores significantly predicted a lower likelihood of developing a first onset of major depressive disorder over 18 months, even after controlling for sex, age, and baseline internalizing symptoms. In contrast, the RewP did not significantly predict the first onset of anxiety disorders or suicidal ideation. A reduced RewP precedes the first onset of depression in high-risk adolescents, highlighting the RewP’s predictive capability for depression risk in predisposed populations. A blunted RewP could complement self-reported symptoms in screening and prevention.
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