
O estudo sugere que é crucial considerar o ambiente térmico das casas dos idosos como um fator que pode influenciar seu bem-estar cognitivo, e que políticas voltadas para o conforto térmico podem ter um impacto significativo na qualidade de vida desses indivíduos.
As mudanças climáticas têm o potencial de alterar os padrões de temperatura em todo o mundo, o que pode expor os idosos a períodos mais frequentes e intensos de calor.
Ondas de calor são eventos climáticos extremos que têm causado um aumento significativo nas taxas de mortalidade entre idosos em todo o mundo. À medida que as temperaturas atingem níveis perigosamente altos, o sistema termorregulador dos idosos, muitas vezes comprometido devido ao envelhecimento ou a condições de saúde preexistentes, torna-se menos eficiente.
Isso pode levar a desidratação, insolação e complicações cardiovasculares, aumentando o risco de morte.
Com as mudanças climáticas prevendo um aumento na frequência e intensidade dessas ondas de calor, a necessidade de intervenções eficazes, como sistemas de alerta, políticas de habitação com controle térmico e acesso a locais refrigerados, torna-se essencial para proteger essa população vulnerável.

Estudos realizados em laboratórios já demonstraram que há uma ligação entre a temperatura ambiente e as habilidades cognitivas, indicando que o aumento da temperatura também pode afetar a capacidade mental dos idosos.
Contudo, ainda há dúvidas sobre como as mudanças de temperatura dentro das próprias casas dos idosos, um ambiente sobre o qual eles têm controle, diferentemente de um laboratório, afetam seu desempenho cognitivo, especialmente no que diz respeito à capacidade de manter a atenção.
Para investigar essa questão, pesquisadores da Harvard Medical School, USA, realizaram um estudo observacional longitudinal. Isso significa que acompanharam um grupo de idosos por um período de tempo, observando como as condições em suas casas influenciam suas habilidades cognitivas.
Especificamente, monitoraram continuamente a temperatura ambiente das casas e registraram a dificuldade que os participantes relataram ter em manter a atenção. Este monitoramento foi realizado ao longo de 12 meses, envolvendo uma coorte de idosos residentes na comunidade de Boston, Massachusetts.

A escolha por um estudo longitudinal permitiu aos pesquisadores observar mudanças ao longo do tempo e como as flutuações de temperatura afetavam os participantes de maneira contínua.
A pesquisa contou com 47 adultos, todos com 65 anos ou mais. Esta faixa etária foi escolhida porque o envelhecimento pode tornar as pessoas mais vulneráveis às variações de temperatura, tanto em termos de conforto físico quanto de desempenho cognitivo.
Os resultados mostraram que existe uma relação entre a temperatura ambiente da casa e a probabilidade de os participantes relatarem dificuldade em manter a atenção. Isso significa que os níveis mais baixos de dificuldade em manter a atenção ocorreram quando a temperatura estava entre 20 e 24 graus Celsius.
Quando a temperatura se desviava dessa faixa, aumentando ou diminuindo em 4 graus, a chance de relatar dificuldades praticamente dobrava. Este achado sugere que há uma faixa de temperatura ideal para o funcionamento cognitivo dos idosos, e sair dessa faixa pode ter um impacto negativo.

Esses resultados indicam que, mesmo sob as condições climáticas atuais, muitos idosos vivem em ambientes internos que podem prejudicar suas habilidades cognitivas.
Com as mudanças climáticas previstas, esse problema pode se tornar ainda mais grave, especialmente para idosos de baixa renda, que podem não ter acesso a sistemas eficazes de controle de temperatura em suas casas.
Isso destaca a necessidade de políticas de saúde pública e habitação que considerem o impacto da temperatura nas capacidades cognitivas dos idosos.
Investir em soluções de habitação que ajudem a manter uma temperatura interna adequada pode ser uma forma importante de aumentar a resiliência dessa população vulnerável frente às mudanças climáticas.
Assim, o estudo sugere que é crucial considerar o ambiente térmico das casas dos idosos como um fator que pode influenciar seu bem-estar cognitivo, e que políticas voltadas para o conforto térmico podem ter um impacto significativo na qualidade de vida desses indivíduos.
LEIA MAIS:
Home Ambient Temperature and Self-reported Attention in Community-Dwelling Older Adults
Amir Baniassadi, Wanting Yu, Thomas Travison, Ryan Day, Lewis Lipsitz, Brad Manor
The Journals of Gerontology, Series A, glae286,
Abstract:
Climate change is expected to disrupt weather patterns across the world, exposing older adults to more intense and frequent periods of hot weather. Meanwhile, lab-based studies have established a causal relationship between ambient temperature and cognitive abilities, suggesting the expected rise in temperature may influence older adults’ cognitive functioning. Nevertheless, it is not clear whether, and to what extent, the temperature variations in older adults’ own homes - which unlike lab settings is under their control - influence their cognitive functioning. Our objective was to provide proof-of-concept that home ambient temperature influences self-reported ability to maintain attention in older adults. We conducted a longitudinal observational study; continuously monitoring the home ambient temperature and self-reported difficulty keeping attention for 12 months in a cohort of community-dwelling older adults living in Boston, MA. 47 adults aged 65 and older. We observed a U-shaped relationship between home ambient temperature at the time of assessment and the odds ratio (OR) of reporting difficulty keeping attention such that the OR was lowest between 20 – 24 ˚C and doubled when moving away from this range by 4 ˚C in either direction.
Our results suggest that even under the current climate a considerable portion of older adults encounter indoor temperatures detrimental to their cognitive abilities. Climate change may exacerbate this problem, particularly among low-income and underserved older adults. Addressing this issue in public health and housing policy is essential to building climate-resiliency in this vulnerable population.
Comments