Convulsões Antecipam o Aparecimento Da Demência Frontotemporal Em Muitos Casos
- Lidi Garcia
- 30 de jun.
- 4 min de leitura

Um novo estudo mostrou que pessoas com demência frontotemporal (DFT) têm mais chance de desenvolver epilepsia do que pessoas saudáveis ou com Alzheimer. As convulsões podem surgir anos antes do diagnóstico da demência e servir como um alerta precoce para a doença. Isso pode ajudar os médicos a identificar e tratar a DFT mais cedo, melhorando o cuidado dos pacientes.
A demência frontotemporal (DFT) é um tipo de doença neurodegenerativa que afeta principalmente as áreas do cérebro responsáveis pelo comportamento, personalidade e linguagem. É uma das formas mais comuns de demência em pessoas mais jovens, mas também afeta pessoas mais velhas.
Essa condição pode ter várias manifestações, como mudanças na forma de agir, dificuldades para se comunicar e até problemas motores. Em alguns casos, ela está ligada a alterações genéticas, como uma mutação no gene chamado C9orf72, especialmente comum em famílias com histórico da doença, principalmente na Escandinávia e na Finlândia.
Por outro lado, a epilepsia é uma condição caracterizada por convulsões, que são descargas elétricas anormais no cérebro. Já se sabe que pessoas com doenças como Alzheimer têm maior risco de desenvolver epilepsia, mas pouco se conhecia sobre essa associação no caso da demência frontotemporal.

Um estudo recente realizado na Finlândia buscou entender melhor essa relação entre epilepsia e demência frontotemporal. Os pesquisadores analisaram dados de 245 pacientes diagnosticados com demência frontotemporal e os compararam com mais de 2.400 pessoas saudáveis e 1.300 pacientes com Alzheimer. O objetivo era verificar se a epilepsia era mais comum entre os pacientes com demência frontotemporal.
Os resultados mostraram que sim: pessoas com demência frontotemporal apresentaram uma taxa mais alta de epilepsia tanto antes quanto depois do diagnóstico da demência. Por exemplo, 10 anos antes do diagnóstico de demência frontotemporal, 3,3% desses pacientes já tinham epilepsia, enquanto essa taxa era de apenas 0,8% nos saudáveis e 1,4% nos com Alzheimer.
Após o diagnóstico, o número aumentou ainda mais: 11,2% dos pacientes com demência frontotemporal desenvolveram epilepsia em até cinco anos, uma porcentagem muito maior do que nos outros grupos.

Prevalência de epilepsia entre os grupos de estudo em diferentes momentos.
Além disso, os pesquisadores observaram que os pacientes com demência frontotemporal compravam mais medicamentos anticonvulsivantes em comparação com os outros grupos, o que reforça a ligação entre as duas condições.
O estudo sugere que, em muitos casos, a epilepsia pode ser um dos primeiros sinais de que o cérebro está começando a sofrer os efeitos da demência frontotemporal, aparecendo anos antes dos outros sintomas mais conhecidos da demência.

Prevalência de Compra de Medicamentos Anticonvulsivantes Antes do Diagnóstico de demência frontotemporal. AD indica doença de Alzheimer; HC, controle saudável; FTD, demência frontotemporal.
Essa descoberta é importante porque pode ajudar médicos a suspeitar mais cedo da presença da demência frontotemporal quando um paciente mais velho apresenta convulsões sem causa aparente.
Essas informações ajudam a compreender melhor como a epilepsia e a demência frontotemporal podem estar conectadas, o que abre caminhos para diagnósticos mais rápidos e tratamentos mais adequados.
Isso também reforça a necessidade de mais estudos para entender como as duas doenças se relacionam e se há mecanismos em comum em seu desenvolvimento, o que no futuro poderá levar a novos tratamentos para ambas as condições.
LEIA MAIS:
Prevalence of Epilepsy in Frontotemporal Dementia and Timing of Dementia Diagnosis
Annemari Kilpeläinen, Mikko Aaltonen, Kalle Aho, Sami Heikkinen,
Ave Kivisild, Adolfina Lehtonen, Laura Leppänen, Iina Rinnankoski, Helmi Soppela, Laura Tervonen, Päivi Hartikainen, Annakaisa Haapasal, Reetta Kälviäine,Kasper Katisko, Johanna Krüger, and Eino Solje
JAMA Neurol, June 2, 2025.
doi:10.1001/jamaneurol.2025.1358
Abstract:
Previous studies have described a potential association between epilepsy and frontotemporal dementia (FTD), but no systematic data are available.
Objective To determine whether epilepsy is more prevalent in patients with FTD than in healthy controls (HCs) or patients with Alzheimer disease (AD). In this case-control study, we compared the prevalence of epilepsy and purchases of antiseizure medicines (ASMs) among patients with FTD, matched HCs, and patients with AD from 2 early-onset dementia diagnostics centers in the same geographic regions of Finland. AD or FTD diagnoses were made between January 1, 2010, and December 31, 2021. Data were analyzed from January 26, 2024, to January 16, 2025. The primary outcome was to describe the prevalence of epilepsy in patients with FTD, covering the time period from 10 years before to 5 years after the FTD diagnosis. We used International Statistical Classification of Diseases, Tenth Revision codes to identify all patients with epilepsy and tracked purchases of ASMs. The study cohort included 245 patients with FTD (121 female [49.4%], 124 male [50.6%]; mean [SD] age, 65.2 [8.7] years), 2416 matched HCs (1190 female [49.3%], 1226 male [50.7%]; mean [SD] age, 65.0 [8.5] years), and 1326 patients with AD (777 female [58.6%], 549 male [41.4%]; mean [SD] age, 71.7 [9.8] years). The prevalence of epilepsy was higher in the FTD group compared with the HC group (3.3% vs 0.8%, respectively; P = .002) and AD group (3.3% vs 1.4%, respectively; P = .01) 10 years before FTD diagnosis. At the year of the diagnosis, the prevalence was 6.5% in patients with FTD, 1.8% in HCs (FTD vs HC difference, 4.7 percentage points [ppt] [95% CI, 2.2-8.6 ppt]; P < .001), and 5.0% in patients with AD (FTD vs AD difference, 1.6 ppt [95% CI, −1.2 to 5.5 ppt]; P = .32); at 5 years after the diagnosis, the prevalence was 11.2% in patients with FTD, 2.2% in HCs (FTD vs HC difference, 9.0 ppt [95% CI, 5.0-14.6 ppt]; P < .001), and 6.9% in patients with AD (FTD vs AD difference, 4.2 ppt [95% CI, 0-10.0 ppt]; P = .05). ASM purchases were made significantly more often among patients with FTD (10.2%) compared with HCs (1.8%) and patients with AD (4.2%) (FTD vs HC difference, 8.4 ppt [95% CI, 5.2-12.9 ppt]; P < .001; FTD vs AD difference, 6.1 ppt [95% CI, 2.6-10.6 ppt]; P < .001) at all time points and increased during the study period. This case-control study found a higher prevalence of epilepsy and increased ASM use among patients with FTD compared with HCs and patients with AD , suggesting an association between epileptic abnormalities and the pathophysiology of FTD. Further studies are warranted to investigate a potential overlap in the pathophysiologic mechanisms of epilepsy and FTD.
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