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Resumo:
Esse estudo mostra que cães treinados com soundboards podem usar os botões de forma intencional e não aleatória. Embora ainda não saibamos até que ponto eles compreendem os significados das palavras, os dados sugerem que seus pressionamentos não são apenas fruto de treinamento mecânico. É um passo importante para entender como os animais podem se comunicar com humanos, e pesquisas futuras continuarão a explorar até onde essa interação pode ir.
Pesquisas sobre como diferentes espécies se comunicam têm uma história cheia de desafios. No início, cientistas tentaram ensinar linguagem a grandes primatas, como chimpanzés, usando gestos ou sons.
Apesar de histórias intrigantes, como o caso de Washoe, uma chimpanzé que supostamente combinou "água" e "pássaro" ao ver um cisne, os métodos usados eram inconsistentes, e os resultados muitas vezes geravam interpretações exageradas. Além disso, criar primatas em ambientes humanos trazia problemas éticos e prejuízos para os animais.
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Deborah and Roger Fouts in 1995 with Washoe, who was able to use American Sign Language. Credito: Central Washington University
Após as críticas iniciais, os cientistas buscaram novas formas de investigar a comunicação animal. Foi aí que surgiram dispositivos como teclados com símbolos (lexigramas), botões com sons e até chips magnéticos.
Esses métodos tinham a vantagem de exigir menos imitação vocal ou coordenação motora, o que permitiu envolver mais espécies, incluindo papagaios, golfinhos e cães. Com esses dispositivos, os animais podiam pressionar botões para fazer solicitações simples, como pedir para brincar ou sair para passear.
No entanto, esses estudos também enfrentaram críticas. Muitos pesquisadores questionaram se os animais realmente compreendiam o que estavam fazendo ou apenas reagiam a pistas involuntárias dos humanos. Por exemplo, no chamado efeito Clever Hans, os animais interpretam sinais sutis e involuntários dos treinadores, sem realmente entender o significado das ações que realizam.
Nos últimos anos, muitos donos de cães começaram a treinar seus pets usando soundboards, dispositivos com botões que, ao serem pressionados, reproduzem palavras ou frases humanas gravadas.
Esses cães não só usam botões para pedir coisas simples, como comida ou passeios, mas alguns donos afirmam que seus pets conseguem "falar" conceitos mais abstratos, como "ajuda" ou "mais tarde". Também há relatos de cães combinando botões em sequências, como "querer brincar agora”.
Pesquisas recentes mostram que os cães reconhecem os sons associados aos botões. Por exemplo, eles reagem de maneira diferente quando alguém pressiona o botão "brincar" em comparação a outros botões, mesmo na ausência de pistas contextuais. Isso sugere que eles entendem ao menos parte do significado das palavras.
Para investigar se os cães realmente usam esses botões de forma deliberada, cientistas analisaram um grande banco de dados com registros de cães e seus donos usando soundboards.
Eles verificaram três pontos principais. (1) Os pressionamentos são deliberados? Isso significa que os cães não estão simplesmente pressionando botões de forma acidental ou aleatória. Os resultados indicaram que os cães escolhem os botões intencionalmente.
(2) Os pressionamentos não são aleatórios? Ou seja, os cães não apertam qualquer botão esperando uma recompensa, mas parecem escolher de acordo com o contexto ou objetivo.
(3) Os cães não estão apenas imitando os donos? A análise mostrou que os pressionamentos dos cães não são apenas cópias do que seus donos fazem. Isso sugere que os animais têm um papel ativo e independente no uso dos botões.
Além disso, os dados revelaram que certos pares de botões, como "brincar" e "agora", aparecem juntos com mais frequência do que o esperado. Isso sugere que os cães podem estar associando conceitos e usando combinações de botões de forma significativa.
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Os resultados mostram que cães treinados com soundboards podem usar os botões de forma intencional e não aleatória. Embora ainda não saibamos até que ponto eles compreendem os significados das palavras, os dados sugerem que seus pressionamentos não são apenas fruto de treinamento mecânico.
É um passo importante para entender como os animais podem se comunicar com humanos, e pesquisas futuras continuarão a explorar até onde essa interação pode ir.
Embora ainda estejamos longe de afirmar que cães realmente "falam" como os humanos, os estudos com soundboards mostram que eles têm capacidade para aprender e associar símbolos a conceitos.
Mais importante, esses experimentos destacam como a ciência e a curiosidade dos donos podem trabalhar juntas para explorar a fascinante comunicação entre espécies.
LEIA MAIS:
Soundboard-trained dogs produce non-accidental, non-random and non-imitative two-button combinations
Amalia P. M. Bastos, Zachary N. Houghton, Lucas Naranjo & Federico Rossano
Scientific Reports. volume 14, Article number: 28771 (2024)
Abstract:
Early studies attempting interspecies communication with great apes trained to use sign language and Augmented Interspecies Communication (AIC) devices were limited by methodological and technological constraints, as well as restrictive sample sizes. Evidence for animals’ intentional production of symbols was met with considerable criticisms which could not be easily deflected with existing data. More recently, thousands of pet dogs have been trained with AIC devices comprising soundboards of buttons that can be pressed to produce prerecorded human words or phrases. However, the nature of pets’ button presses remains an open question: are presses deliberate, and potentially meaningful? Using a large dataset of button presses by family dogs and their owners, we investigate whether dogs’ button presses are (i) non-accidental, (ii) non-random, and (iii) not mere repetitions of their owners’ presses. Our analyses reveal that, at the population level, soundboard use by dogs cannot be explained by random pressing, and that certain two-button concept combinations appear more often than expected by chance at the population level. We also find that dogs’ presses are not perfectly predicted by their owners’, suggesting that dogs’ presses are not merely repetitions of human presses, therefore suggesting that dog soundboard use is deliberate.
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