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Como o Sono Curto e a Pressão Alta podem Acelerar o Envelhecimento do seu Cérebro


Resumo:

Indivíduos com hipertensão e curta duração do sono podem representar um grupo de alto risco para comprometimento cognitivo e lesão cerebral vascular. O resultados mostram que em pessoas com hipertensão, a duração mais curta do sono foi associada a um funcionamento executivo mais fraco, aumento das hiperintensidades da substância branca e atrofia da substância cinzenta na ressonância magnética cerebral; essas mesmas associações não foram observadas em pessoas com normotensão.


O sono insuficiente tem se tornado um problema crescente de saúde pública, com até metade dos adultos nos Estados Unidos dormindo menos do que as sete horas recomendadas por noite. Essa falta de sono pode prejudicar seriamente o cérebro, já que tanto o sono excessivamente curto quanto o longo estão associados ao declínio cognitivo e ao aumento do risco de demência. 


Por isso, entender melhor os mecanismos por trás do sono inadequado, especialmente no início dos processos patológicos que levam a doenças como a demência, é uma prioridade nas pesquisas de saúde.


Uma das teorias que vem ganhando destaque é a ideia de que a disfunção do sono pode prejudicar a capacidade do cérebro de se livrar de proteínas neurotóxicas, como a proteína beta-amiloide (Aβ), que está ligada ao desenvolvimento da doença de Alzheimer. 


Embora o sono ruim prejudique diretamente a eliminação dessas substâncias do cérebro, ele também pode aumentar o risco de demência por meio de outros fatores, como a hipertensão (pressão alta), que está frequentemente associada a uma curta duração do sono. 

A hipertensão, em particular, é considerada um fator de risco importante para problemas cognitivos e demência mais tarde na vida. Pesquisas mostram que a hipertensão pode afetar áreas do cérebro responsáveis pela atenção e funções executivas, como o planejamento e a tomada de decisões. 


Esse efeito ocorre porque a hipertensão está associada a danos nos pequenos vasos sanguíneos do cérebro, o que pode causar lesões na substância branca — a parte do cérebro responsável pela comunicação entre diferentes áreas. Além disso, a pressão alta pode interromper os circuitos cerebrais que controlam funções cognitivas importantes.


O sono também tem um impacto direto sobre a pressão arterial. Durante o sono, a pressão arterial tende a diminuir cerca de 10%, o que é um fenômeno natural e saudável. No entanto, a falta de sono pode prejudicar essa redução da pressão arterial, resultando em uma hipertensão que pode ser mascarada (não perceptível) durante a noite. 


Quando a hipertensão se combina com a falta de sono, isso pode aumentar ainda mais o risco de problemas cardiovasculares, como infartos e acidentes vasculares cerebrais (AVCs). No entanto, a interação entre esses dois fatores — hipertensão e sono ruim — ainda não foi suficientemente estudada no que diz respeito à saúde cognitiva e ao impacto no cérebro.

Pesquisadores da Universidade Monash, na Austrália, conduziram um estudo para investigar como a hipertensão pode influenciar a relação entre a duração do sono e o desempenho cognitivo, além dos efeitos no cérebro, como o envelhecimento acelerado e lesões cerebrais. 


Para isso, eles analisaram uma amostra de 682 pessoas que participaram do Framingham Heart Study, uma pesquisa de longo prazo sobre saúde cardiovascular. Esses participantes, com uma média de 62 anos, foram submetidos a avaliações de cognição, pressão arterial e padrões de sono. Além disso, 637 pessoas fizeram exames de ressonância magnética para avaliar os danos cerebrais.


Os pesquisadores queriam testar a hipótese de que pessoas com sono mais curto apresentariam pior desempenho em tarefas de função executiva, como raciocínio rápido e tomada de decisões, e mais lesões na substância branca do cérebro, especialmente aquelas com hipertensão. 

As análises mostraram que, de fato, pessoas com hipertensão e sono curto apresentaram um desempenho cognitivo pior e mais lesões na substância branca do cérebro, como hiperintensidades (áreas de dano), comparadas às pessoas com pressão arterial normal.


Além disso, os resultados mostraram que a duração mais longa do sono estava associada a melhores pontuações em tarefas cognitivas para o grupo de pessoas com hipertensão, indicando que o sono prolongado pode ajudar a melhorar a função cerebral nessas pessoas. No entanto, isso não foi observado nas pessoas com pressão arterial normal, sugerindo que a hipertensão pode ser um fator que agrava o impacto do sono insuficiente.


Por fim, esse estudo sugere que indivíduos com hipertensão e sono insuficiente podem ser um grupo de alto risco para o comprometimento cognitivo e danos cerebrais. A detecção precoce de problemas de sono em pessoas hipertensas pode ajudar a criar tratamentos personalizados para melhorar a saúde do cérebro e prevenir o envelhecimento cerebral acelerado. 


A pesquisa também aponta para a necessidade de novos ensaios clínicos para testar terapias de sono e redução da pressão arterial, que podem ajudar a prevenir ou retardar o desenvolvimento de problemas cognitivos, como a demência.



LEIA MAIS:


Short Sleep Duration and Hypertension: A Double Hit for the Brain

Stephanie Yiallourou, Andree-Ann Baril, Crystal Wiedner, Xuemei Song, 

Rebecca Bernal, Dibya Himali, Marina G. Cavuoto, Charles DeCarli, 

Alexa Beiser, Sudha Seshadri, Jayandra J. Himali, and Matthew P. Pase

Journal of the American Heart Association. Volume 13, Number 21


Abstract:


Short sleep duration has been associated with an increased risk of cognitive impairment and dementia. Short sleep is associated with elevated blood pressure, yet the combined insult of short sleep and hypertension on brain health remains unclear. We assessed whether the association of sleep duration with cognition and vascular brain injury was moderated by hypertensive status.

A total of 682 dementia‐free participants (mean age, 62±9 years; 53% women) from the Framingham Heart Study completed assessments of cognition, office blood pressure, and self‐reported habitual and polysomnography‐derived sleep duration; 637 underwent brain magnetic resonance imaging. Linear regressions were performed to assess effect modification by hypertensive status on total sleep time (coded in hours) and cognitive and magnetic resonance imaging outcomes. There was a significant interaction between sleep duration and hypertensive status when predicting executive function/processing speed (Trail Making B‐A) and white matter hyperintensities. When results were stratified by hypertensive status, longer sleep duration was associated with better executive functioning/processing speed scores in the hypertensive group (meaning that shorter sleep duration was associated with poorer executive function/processing speed scores) (self‐report sleep: β=0.041 [95% CI, 0.012–0.069], P=0.005; polysomnography sleep: β=0.045 [95% CI, 0.002–0.087], P=0.038), but no association was observed for the normotensive group. Similarly, shorter subjective sleep duration was associated with higher white matter hyperintensity burden in the hypertensive group (β=−0.115 [95% CI, −0.227 to −0.004], P=0.042), but not in the normotensive group. In individuals with hypertension, shorter sleep duration was associated with worse cognitive performance and greater brain injury.

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