Resumo:
Este estudo é um marco inicial na compreensão dos efeitos da cetamina em crianças com traumatismo cranioencefálico (TCE) grave. Contrariando preocupações anteriores de que a cetamina poderia aumentar a pressão intracraniana (PIC), os resultados mostram que ela pode ser uma opção viável para reduzir a pressão intracraniana durante crises.
A cetamina, um medicamento amplamente utilizado para sedação, possui efeitos cerebrais agudos que ainda não foram completamente compreendidos, especialmente em crianças.
Este estudo buscou explorar os impactos imediatos da cetamina na pressão intracraniana (PIC) e na pressão de perfusão cerebral (PPC) em pacientes pediátricos que sofreram traumatismo cranioencefálico (TCE) grave.
A pressão intracraniana (PIC) refere-se à pressão exercida pelo tecido cerebral, pelo líquido cefalorraquidiano (LCR) e pelo sangue dentro do crânio. Em condições normais, a PIC é mantida em equilíbrio dinâmico para garantir o funcionamento adequado do cérebro.
No entanto, lesões, infecções ou outras condições podem levar ao aumento da PIC, o que pode comprimir o tecido cerebral e reduzir o fluxo de sangue para o cérebro, causando danos.
Já a pressão de perfusão cerebral (PPC) é a medida que reflete a quantidade de sangue efetivamente entregue ao cérebro, sendo calculada pela diferença entre a pressão arterial média (PAM) e a PIC. A PPC é essencial para fornecer oxigênio e nutrientes ao cérebro; valores baixos podem causar isquemia cerebral (falta de suprimento sanguíneo adequado), enquanto valores muito altos podem aumentar o risco de danos ao tecido cerebral.
Juntas, a PIC e a PPC são métricas críticas para avaliar a saúde cerebral, especialmente em situações de trauma ou doenças neurológicas.
Os momentos de administração da cetamina foram sincronizados com gravações automáticas de PIC e PPC, realizadas a cada minuto e armazenadas no prontuário eletrônico.
Os valores de PIC e PPC foram analisados em diferentes períodos após a administração da cetamina e comparados com os valores basais. A PPC foi ajustada para levar em conta os limiares normais baseados na idade, e mudanças ao longo do tempo foram avaliadas utilizando métodos estatísticos robustos.
O estudo incluiu 33 pacientes com idades variando de 1 mês a 16 anos. Desses, 22 receberam um total de 127 doses de cetamina, enquanto outros 11 pacientes não foram submetidos a essa intervenção.
As características demográficas e clínicas dos dois grupos foram semelhantes, permitindo uma comparação consistente.
Os resultados mostraram que quando a cetamina foi administrada apenas para fins de sedação, não houve alterações significativas nos níveis de PIC ou PPC em comparação aos valores basais. Isso sugere que, sob condições normais, a cetamina não agrava a PIC nem afeta negativamente a PPC.
Porem, para 11 pacientes que apresentaram crises de PIC (18 episódios tratados com cetamina), os resultados foram mais promissores.
Após a administração da cetamina, houve uma redução significativa na PIC e um aumento na PPC ajustada pelos limiares de idade. Esses achados indicam que a cetamina pode ajudar a aliviar crises de hipertensão intracraniana.
Este estudo é um marco inicial na compreensão dos efeitos da cetamina em crianças com TCE grave. Contrariando preocupações anteriores de que a cetamina poderia aumentar a PIC, os resultados mostram que ela pode ser uma opção viável para reduzir a pressão intracraniana durante crises.
Se essas descobertas forem confirmadas por estudos maiores e mais abrangentes, a cetamina poderá se consolidar como parte de protocolos baseados em evidências para o manejo da hipertensão intracraniana em crianças. Isso oferece uma nova esperança para o tratamento de uma condição crítica, potencialmente melhorando os desfechos para pacientes pediátricos em situações de alta gravidade.
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Acute Effects of Ketamine on Intracranial Pressure in Children With Severe Traumatic Brain Injury
Laws, Jennifer; Vance, E. Haley; Betters, Kristina; Anderson, Jessica; Fleishman, Sydney; Bonfield, Christopher; Wellons, John C.; Xu, Meng; Slaughter, James; Giuse, Dario; Patel, Neal; Jordan, Lori; Wolf, Michael S.
Critical Care Medicine 51(5):p 563-572, May 2023.
DOI: 10.1097/CCM.0000000000005806
Abstract:
The acute cerebral physiologic effects of ketamine in children have been incompletely described. We assessed the acute effects of ketamine on intracranial pressure (ICP) and cerebral perfusion pressure (CPP) in children with severe traumatic brain injury (TBI). In this retrospective observational study, patients received bolus doses of ketamine for sedation or as a treatment for ICP crisis (ICP > 20 mm Hg for > 5 min). Administration times were synchronized with ICP and CPP recordings at 1-minute intervals logged in an automated database within the electronic health record. ICP and CPP were each averaged in epochs following drug administration and compared with baseline values. Age-based CPP thresholds were subtracted from CPP recordings and compared with baseline values. Trends in ICP and CPP over time were assessed using generalized least squares regression. A 30-bed tertiary care children’s hospital PICU. Children with severe TBI who underwent ICP monitoring. We analyzed data from 33 patients, ages 1 month to 16 years, 22 of whom received bolus doses of ketamine, with 127 doses analyzed. Demographics, patient, and injury characteristics were similar between patients who did versus did not receive ketamine boluses. In analysis of the subset of ketamine doses used only for sedation, there was no significant difference in ICP or CPP from baseline. Eighteen ketamine doses were given during ICP crises in 11 patients. ICP decreased following these doses and threshold-subtracted CPP rose. In this retrospective, exploratory study, ICP did not increase following ketamine administration. In the setting of a guidelines-based protocol, ketamine was associated with a reduction in ICP during ICP crises. If these findings are reproduced in a larger study, ketamine may warrant consideration as a treatment for intracranial hypertension in children with severe TBI.
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