top of page

Cannabis deixa marcas moleculares no DNA associadas à Psicose


Resumo:

O uso frequente de cannabis de alta potência pode deixar marcas específicas no DNA, especialmente em genes relacionados à produção de energia e à função do sistema imunológico. Pesquisadores descobriram que uma modificação chamada metilação do DNA varia entre usuários frequentes que sofreram psicose e aqueles que não tiveram esse problema, sugerindo uma possível ligação genética com o risco de desenvolver psicose. Essa descoberta pode, no futuro, possibilitar exames de sangue que identifiquem usuários de cannabis mais vulneráveis à psicose, ajudando em abordagens preventivas.


O aumento do consumo de cannabis em várias partes do mundo, especialmente de variantes de alta potência (com 10% ou mais de THC, o principal componente psicoativo), levou os cientistas a se concentrarem em seus impactos na saúde mental, particularmente em transtornos psicóticos.


Evidências mostram que o uso prolongado de cannabis, começando na adolescência e em altas doses, está associado a um risco maior de psicose, com um aumento de 2 a 5 vezes nas chances de desenvolver a doença, quando comparado a não usuários.


Embora o efeito da cannabis sobre a saúde mental esteja bem estabelecido, o mecanismo exato de como ela impacta a função cerebral é complexo e ainda está sendo desvendado. Um dos focos atuais é a metilação do DNA, um processo epigenético que altera a expressão dos genes sem modificar sua estrutura.


Isso significa que fatores externos, como o uso de cannabis, podem "ligar" ou "desligar" certos genes, afetando diretamente sua função. Esse mecanismo epigenético já foi bastante estudado em relação ao tabagismo, mas as pesquisas sobre a cannabis ainda estão nos estágios iniciais. 

Os estudos existentes sugerem que o uso de cannabis pode afetar genes envolvidos no desenvolvimento cerebral, como aqueles relacionados à transmissão de dopamina (uma substância química crucial para o controle de humor e comportamento), e outros associados ao sistema endocanabinoide (responsável pela regulação de várias funções cerebrais).


Além disso, a cannabis pode influenciar a "idade epigenética", uma medida da idade biológica de uma pessoa com base nas alterações do DNA. Usuários frequentes de cannabis podem mostrar sinais de envelhecimento biológico acelerado, o que poderia aumentar o risco de várias doenças.


Esse estudo inovador, publicado na revista Molecular Psychiatry por pesquisadores da Washington University, foi o primeiro a mostrar que o uso de cannabis de alta potência pode alterar a metilação de genes relacionados à função imunológica e mitocondrial, que são sistemas essenciais para o funcionamento do corpo e a resposta às infecções.


Ao comparar usuários frequentes de cannabis que passaram por episódios de psicose com aqueles que não desenvolveram a condição, os pesquisadores notaram diferenças significativas nas marcas epigenéticas entre esses dois grupos. Isso sugere que o uso da substância pode influenciar a vulnerabilidade genética à psicose, um transtorno mental grave.


A pesquisa envolveu 682 participantes (188 usuários atuais de cannabis e 494 nunca usuários), incluindo entre elas 239 pessoas que já haviam experimentado um primeiro episódio de psicose (FEP). Eles analisaram as amostras de DNA do sangue dos participantes, observando como a metilação variava.


Um local específico no gene CAVIN1 foi identificado como diferencialmente metilado em usuários de cannabis, independentemente de outros fatores, como o uso de tabaco. Isso indica que o uso frequente da droga pode causar mudanças permanentes em certos genes.


Além disso, as mudanças epigenéticas foram mais pronunciadas em usuários de cannabis de alta potência, sugerindo que doses maiores de THC têm um impacto mais forte. Isso levanta a possibilidade de no futuro serem desenvolvidos exames de sangue para identificar aqueles que estão mais em risco de desenvolver psicose após o uso da substância, facilitando a criação de estratégias de prevenção.

‘Nossas descobertas fornecem insights importantes sobre como o uso de cannabis pode alterar os processos biológicos. A metilação do DNA, que preenche a lacuna entre a genética e os fatores ambientais, é um mecanismo fundamental que permite que influências externas, como o uso de substâncias, impactem a atividade genética’,  diz Dr Emma Dempster, uma dos autores do estudo.


Essas descobertas são importantes, pois mostram como o uso de cannabis pode modificar processos biológicos essenciais, preenchendo a lacuna entre nossa genética e fatores ambientais, como o uso de substâncias. Com o uso da cannabis se tornando cada vez mais comum, especialmente entre jovens, entender seus efeitos no corpo e no cérebro é crucial para garantir a saúde mental da população.



LEIA MAIS:


Methylomic signature of current cannabis use in two first-episode psychosis cohorts.

Dempster EL, Wong CCY, Burrage J et al. 


Abstract:


The rising prevalence and legalisation of cannabis worldwide have underscored the need for a comprehensive understanding of its biological impact, particularly on mental health. Epigenetic mechanisms, specifically DNA methylation, have gained increasing recognition as vital factors in the interplay between risk factors and mental health. This study aimed to explore the effects of current cannabis use and high-potency cannabis on DNA methylation in two independent cohorts of individuals experiencing first-episode psychosis (FEP) compared to control subjects. The combined sample consisted of 682 participants (188 current cannabis users and 494 never users). DNA methylation profiles were generated on blood-derived DNA samples using the Illumina DNA methylation array platform. A meta-analysis across cohorts identified one CpG site (cg11669285) in the CAVIN1 gene that showed differential methylation with current cannabis use, surpassing the array-wide significance threshold, and independent of the tobacco-related epigenetic signature. Furthermore, a CpG site localised in the MCU gene (cg11669285) achieved array-wide significance in an analysis of the effect of high-potency (THC = > 10%) current cannabis use. Pathway and regional analyses identified cannabis-related epigenetic variation proximal to genes linked to immune and mitochondrial function, both of which are known to be influenced by cannabinoids. Interestingly, a model including an interaction term between cannabis use and FEP status identified two sites that were significantly associated with current cannabis use with a nominally significant interaction suggesting that FEP status might moderate how cannabis use affects DNA methylation. Overall, these findings contribute to our understanding of the epigenetic impact of current cannabis use and highlight potential molecular pathways affected by cannabis exposure.



Comentários


bottom of page