Cérebros Contaminados: O Plástico Invisível que Pode Aumentar o Risco de Demência
- Lidi Garcia
- 18 de mar.
- 4 min de leitura

Pesquisadores descobriram que o cérebro humano pode acumular microplásticos, com níveis mais altos em pessoas com demência. Essas partículas, vindas do ar, da água e dos alimentos, podem causar inflamação e prejudicar o funcionamento do organismo. Para reduzir a exposição, especialistas recomendam evitar água engarrafada, aquecer comida em plástico e consumir menos ultraprocessados. Estudos indicam que o corpo pode eliminar parte dessas partículas, mas mais pesquisas são necessárias para entender os impactos a longo prazo.
Um estudo recente publicado na Nature Medicine revelou uma descoberta alarmante: o cérebro humano pode conter aproximadamente uma colher de pequenas partículas de plástico, conhecidas como microplásticos e nanoplásticos (MNPs).
Microplásticos e nanoplásticos são pequenas partículas de plástico resultantes da degradação de produtos plásticos maiores ou produzidas intencionalmente para uso industrial. Os microplásticos medem menos de 5 mm, enquanto os nanoplásticos têm menos de 1 micrômetro e podem até penetrar células humanas.
Essas partículas estão presentes no ar, na água e nos alimentos, sendo uma preocupação crescente devido aos seus potenciais efeitos tóxicos no meio ambiente e na saúde humana.

Os pesquisadores analisaram cérebros de pessoas falecidas e descobriram que aqueles diagnosticados com demência tinham uma concentração de microplásticos e nanoplásticos 3 a 5 vezes maior do que aqueles sem a doença.
Além disso, verificaram que o cérebro acumula de 7 a 30 vezes mais microplásticos do que outros órgãos, como fígado e rins. A maioria dessas partículas eram feitas de polietileno, um tipo de plástico comum em embalagens e sacolas.
Os cientistas também observaram que a quantidade de microplásticos e nanoplásticos no cérebro aumentou em 50% entre 2016 e 2024, o que coincide com o crescimento alarmante da poluição por plásticos no meio ambiente.
Estima-se que entre 10 e 40 milhões de toneladas de microplásticos sejam lançadas na natureza a cada ano, número que pode dobrar até 2040. Essas partículas estão por toda parte, no oceano, nas montanhas, no solo, e acabam chegando até nós pelos alimentos, pela água que bebemos e até pelo ar que respiramos.
Embora ainda não se compreenda completamente como os microplásticos afetam o corpo humano, estudos em animais e células mostram que eles podem causar inflamação, estresse oxidativo, problemas no metabolismo, danos ao sistema imunológico e até interferências no funcionamento do cérebro.

Em pesquisas recentes, pacientes com placas nas artérias que continham microplásticos apresentaram maior risco de infarto e AVC. Outro estudo mostrou que pessoas com doenças inflamatórias intestinais tinham 1,5 vez mais microplásticos nas fezes do que indivíduos saudáveis, sugerindo uma possível ligação entre esses plásticos e doenças crônicas.
Os cientistas acreditam que a relação entre microplásticos e demência pode ter duas explicações:
- Os pacientes com demência têm uma barreira cerebral mais frágil, permitindo que mais microplásticos entrem no cérebro.
- Os microplásticos podem desencadear inflamações no cérebro, dificultando a eliminação de proteínas tóxicas e piorando a progressão da doença.
Dado que eliminar completamente a exposição aos microplásticos é praticamente impossível, os especialistas sugerem algumas medidas simples para reduzir a ingestão dessas partículas:
Evitar beber água engarrafada: Trocar por água filtrada pode reduzir a ingestão anual de microplásticos de 90.000 para 4.000 partículas. Evitar aquecer alimentos em recipientes plásticos: O calor libera milhões de partículas plásticas nos alimentos. Prefira vidro ou aço inoxidável.
Reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados: Nuggets de frango, por exemplo, contêm 30 vezes mais microplásticos do que peito de frango natural. Diminuir o consumo de frutos do mar e bebidas alcoólicas, que são fontes significativas de microplásticos. Usar filtros de ar (HEPA) em casa, pois a inalação também é uma importante via de exposição.

Além de reduzir a ingestão, outra questão importante é se o corpo consegue eliminar microplásticos. Estudos indicam que substâncias químicas presentes nos plásticos, como o bisfenol A (BPA), podem ser excretadas pelo suor, urina e fezes.
Um estudo mostrou que algumas pessoas eliminaram bisfenol A pelo suor, sugerindo que exercícios físicos e sauna podem ajudar a reduzir a carga de microplásticos no corpo, embora mais pesquisas sejam necessárias para confirmar esse efeito.
Pesquisas futuras precisam investigar mais a fundo quanto tempo os microplásticos permanecem no corpo e como exatamente afetam a saúde.

Em estudos com peixes, foi observado que o cérebro pode eliminar 75% das partículas plásticas acumuladas em cerca de 70 dias, desde que a exposição seja reduzida. Se isso também for verdade para humanos, mudanças no estilo de vida podem ser eficazes para reduzir a presença de microplásticos no organismo.
À medida que o conhecimento sobre esse tema cresce, é fundamental que governos, empresas e a sociedade busquem formas de reduzir a produção e o consumo de plásticos, promovendo políticas para limitar a poluição e proteger a saúde pública.
LEIA MAIS:
Human microplastic removal: what does the evidence tell us?
Nicholas Fabiano, Brandon Luu and David Puder
Brain Medicine. 4 March 2025, Page Range: 1 – 2
DOI: 10.61373/bm025c.0020
Abstract:
The increased levels of microplastics and nanoplastics (MNPs) found in human brain tissue are alarming, particularly in patients with dementia. Although total avoidance of MNP exposure will likely remain an unattainable endpoint in light of their ubiquity in the environment, new studies indicate feasible pathways by which dietary intake may be decreased or clearances improved. This commentary reviews the evidence on human exposure to MNPs, their tissue penetration, and potential health effects, particularly on neurotoxicity. We will explore evidence-based strategies for reducing exposure through dietary and lifestyle changes while addressing key gaps in our current knowledge calling for additional research.
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