Resumo:
Pesquisas recentes revelam que células senescentes, conhecidas como "células zumbis", presentes na pele podem acelerar o envelhecimento em todo o corpo, inclusive no cérebro. Quando essas células foram transplantadas para modelos animais, espalharam a senescência para outros órgãos, afetando negativamente a função muscular e cerebral. A descoberta reforça a importância de estratégias antienvelhecimento que abordem tanto a saúde da pele quanto a função global do corpo, mirando essas células senescentes.
A senescência celular é um estado em que as células param de se dividir permanentemente devido a diferentes tipos de estresse, como o envelhecimento ou danos ao DNA.
Essas células, também conhecidas como "células zumbis", liberam uma variedade de moléculas inflamatórias conhecidas como SASP (Fenótipo Secretor Associado à Senescência), que, embora possam ter funções positivas como ajudar no reparo de tecidos ou na prevenção de câncer, também podem causar problemas se persistirem no organismo.
Quando presentes em excesso, as células senescentes e o SASP podem acelerar o envelhecimento dos tecidos e contribuir para o surgimento de doenças relacionadas à idade. Estudos mostram que essas células se acumulam em diversos tecidos à medida que envelhecemos.
Experimentos com camundongos indicam que remover essas células pode melhorar funções relacionadas à idade, sugerindo que a senescência celular desempenha um papel fundamental no declínio de funções corporais com o tempo. Uma questão importante que os pesquisadores ainda tentam entender é como essas células se formam e se espalham em diferentes órgãos.
Foi descoberto que as células senescentes podem "contagiar" células vizinhas por meio de sinais químicos, como as moléculas SASP, ou através de vesículas extracelulares, propagando a senescência de um tecido para outro. Esse fenômeno pode levar a efeitos sistêmicos, onde o envelhecimento de um órgão, como a pele, pode afetar outros órgãos distantes.
A pele, sendo o maior órgão do corpo, desempenha um papel crítico como uma barreira contra patógenos, produtos químicos e radiação UV. Durante o envelhecimento, a pele exibe várias alterações estruturais, celulares e moleculares, incluindo um acúmulo de células senescentes que podem ser influenciadas por fatores intrínsecos e extrínsecos.
Curiosamente, vários estudos propõem o envelhecimento da pele como um potencial preditor de disfunção relacionada à idade em outros órgãos. Algumas pesquisas revelaram correlações entre o envelhecimento da pele e a aparência facial com relação à longevidade, suscetibilidade a doenças e taxas de mortalidade.
Além disso, estudos indicaram que a exposição à radiação ultravioleta em camundongos pode induzir neurogênese hipocampal prejudicada. Isso implica o conceito intrigante de que as mudanças que ocorrem na pele podem potencialmente se manifestar como alterações em órgãos distais, incluindo notavelmente o cérebro.
Essas observações levaram à hipótese ainda não testada de que o acúmulo de células senescentes dentro da pele pode ter o potencial de espalhar a senescência para outros órgãos.
Pesquisadores da University of Coimbra e da Mayo Clinic testaram a hipótese de que células senescentes na pele poderiam causar o envelhecimento de outros órgãos, como o cérebro.
Eles observaram, em camundongos, que a quantidade de células senescentes aumenta com a idade. Para explorar isso, eles transplantaram fibroblastos senescentes (um tipo de célula da pele) em camundongos jovens e monitoraram os efeitos em outros tecidos.
Os resultados mostraram que a presença de células senescentes na pele pode aumentar a senescência em órgãos próximos e distantes, levando a problemas como a perda de função muscular e declínio cognitivo.
Análises do cérebro desses camundongos revelaram uma diminuição nas funções cognitivas, como a memória, relacionada ao acúmulo de células senescentes no hipocampo, a área responsável pela memória e aprendizado. Apos a eliminação dessas células, houve a melhora na função cognitiva.
Por fim, testes de comportamento confirmaram que camundongos com células senescentes transplantadas na pele apresentaram um declínio significativo na memória espacial, embora sem sinais claros de ansiedade.
O transplante intradérmico de células senescentes induz declínio cognitivo em camundongos jovens. (a) 2–4 meses após o transplante intradérmico de fibroblastos proliferativos ou senescentes, os camundongos foram avaliados em uma série de avaliações comportamentais, incluindo os testes do labirinto em Y e do labirinto de Stones, que avaliam a memória espacial, bem como os testes do labirinto em cruz elevado (EPM) e do campo aberto, que avaliam o comportamento semelhante à ansiedade. Usando o labirinto em Y onde os camundongos precisavam lembrar qual caminho era novo. Os camundongos com células senescentes demoraram mais para explorar o caminho novo, sugerindo problemas de memória, os camundongos transplantados foram avaliados quanto a (b) tempo gasto no braço novo e (c) latência para o braço novo. Usando o labirinto de Stone, mediu quantas vezes os camundongos erraram enquanto tentavam sair do labirinto. Aqueles com células senescentes cometeram mais erros, indicando uma diminuição na habilidade de lembrar e navegar pelo espaço. Os camundongos transplantados foram avaliados quanto a (d) tempo médio para terminar o teste e (e) número médio de erros. (f) células positivas para p21, (g) IL1α e (h) Il6 na região CA3 do hipocampo.
Esses achados sugerem que o acúmulo de células senescentes na pele pode afetar negativamente outros órgãos, especialmente o cérebro, potencialmente contribuindo para o declínio cognitivo relacionado ao envelhecimento.
Esses resultados abrem novas perspectivas sobre como o tratamento do envelhecimento da pele pode ajudar a mitigar o envelhecimento sistêmico e as doenças associadas.
Além disso, mais pesquisas são necessárias para identificar quais fatores liberados por células senescentes na pele impulsionam os efeitos sistêmicos observados em tecidos hospedeiros. Tais estudos mecanicistas podem abrir novos caminhos para intervenção terapêutica.
LEIA MAIS:
Senescent cell transplantation into the skin induces age-related peripheral dysfunction and cognitive decline
Franco AC, et al.
Aging cell. 07 October 2024. https://doi.org/10.1111/acel.14340
Abstract:
Cellular senescence is an established cause of cell and tissue aging. Senescent cells have been shown to increase in multiple organs during aging, including the skin. Here we hypothesized that senescent cells residing in the skin can spread senescence to distant organs, thereby accelerating systemic aging processes. To explore this hypothesis, we initially observed an increase in several markers of senescence in the skin of aging mice. Subsequently, we conducted experiments wherein senescent fibroblasts were transplanted into the dermis of young mice and assessed various age-associated parameters. Our findings reveal that the presence of senescent cells in the dermal layer of young mice leads to increased senescence in both proximal and distal host tissues, alongside increased frailty, and impaired musculoskeletal function. Additionally, there was a significant decline in cognitive function, concomitant with increased expression of senescence-associated markers within the hippocampus brain area. These results support the concept that the accumulation of senescent cells in the skin can exert remote effects on other organs including the brain, potentially explaining links between skin and brain disorders and diseases and, contributing to physical and cognitive decline associated with aging.
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