Bebidas Diet Podem Enganar Seu Cérebro e Aumentar Sua Fome
- Lidi Garcia
- 4 de abr.
- 4 min de leitura

A sucralose, um adoçante sem calorias, pode aumentar a fome porque engana o cérebro com o sabor doce sem fornecer energia. Um estudo usou ressonância magnética para mostrar que, ao contrário do açúcar, a sucralose ativa mais o hipotálamo, uma região que regula o apetite, e fortalece conexões com áreas ligadas à motivação para comer. Isso sugere que adoçantes sem calorias podem influenciar o apetite de forma diferente do açúcar comum.
A sucralose é um adoçante amplamente utilizado como alternativa ao açúcar, pois proporciona um sabor doce sem adicionar calorias à dieta. Muitas pessoas optam por adoçantes não calóricos para reduzir a ingestão de açúcar e controlar o peso. No entanto, alguns estudos sugerem que esses adoçantes podem estimular o apetite, em vez de reduzi-lo.
Isso pode ocorrer porque o sabor doce ativa os sensores do gosto na boca, mas, ao contrário do açúcar comum (sacarose), a sucralose não desencadeia os mesmos sinais metabólicos no organismo que normalmente ajudariam a regular a fome.
Para investigar esse efeito, os pesquisadores da University of Southern California, USA, realizaram um ensaio clínico randomizado e cruzado com 75 adultos jovens, incluindo indivíduos com peso saudável, sobrepeso e obesidade.

No estudo, os participantes consumiram uma das três bebidas: uma contendo sucralose, outra contendo sacarose (açúcar comum) em uma quantidade equivalente para ter o mesmo nível de doçura, ou simplesmente água. Após o consumo, os cientistas avaliaram como cada bebida afetava o cérebro e a sensação de fome dos participantes.
A técnica principal utilizada nesse estudo para medir o efeito da sucralose no cérebro foi a ressonância magnética funcional (fMRI, functional Magnetic Resonance Imaging). A fMRI detecta mudanças no fluxo sanguíneo cerebral, permitindo que os pesquisadores observem quais áreas do cérebro estão mais ativas após o consumo das bebidas (sucralose, sacarose ou água).
Um aumento no fluxo sanguíneo no hipotálamo indica maior ativação neuronal nessa região, sugerindo que o adoçante afetou os mecanismos de regulação do apetite.

O hipotálamo é uma região do cérebro fundamental para a regulação da fome e do equilíbrio energético. Ele recebe e processa sinais do corpo, como os níveis de glicose no sangue, hormônios (como leptina e grelina) e sinais neurais do sistema digestivo.
Quando ingerimos alimentos, esses sinais ajudam o hipotálamo a determinar se devemos continuar comendo ou se estamos satisfeitos. Além disso, essa região controla a liberação de neurotransmissores que influenciam o apetite e a motivação para buscar comida. Alterações nesses mecanismos, como as observadas no consumo de adoçantes não calóricos, podem impactar a percepção da fome e o comportamento alimentar.
Além de medir a atividade isolada do hipotálamo, os pesquisadores analisaram como essa região se comunicava com outras áreas do cérebro envolvidas na motivação e no processamento somatossensorial. Isso foi feito por meio de uma análise de conectividade funcional, que identifica padrões de interação entre diferentes regiões cerebrais enquanto o participante está em repouso ou realizando uma tarefa.

Além da fMRI, o estudo também incluiu avaliações subjetivas de fome (por meio de questionários aplicados aos participantes) e medidas dos níveis de glicose no sangue, para correlacionar os efeitos metabólicos com a atividade cerebral.
Os resultados mostraram que a ingestão de sucralose levou a um aumento do fluxo sanguíneo no hipotálamo, uma região do cérebro essencial para a regulação do apetite e do metabolismo. Esse efeito foi significativo quando comparado à ingestão de sacarose e também foi observado quando comparado à ingestão de água. Além disso, os participantes que consumiram sucralose relataram sentir mais fome em comparação com aqueles que consumiram sacarose.
A sacarose, por outro lado, elevou os níveis de glicose no sangue, o que foi associado a uma redução do fluxo sanguíneo no hipotálamo. Isso sugere que o açúcar ativa mecanismos naturais do corpo que ajudam a suprimir a fome. Já a sucralose, por não aumentar os níveis de glicose da mesma forma, não provoca essa resposta inibitória.

Outro achado importante foi que o consumo de sucralose aumentou a conectividade funcional entre o hipotálamo e outras áreas do cérebro responsáveis pela motivação e pelo processamento sensorial. Isso indica que o adoçante pode influenciar os circuitos neurais envolvidos na percepção do sabor e na busca por alimentos, o que pode contribuir para o aumento da fome e do desejo por comida.
Em resumo, esses resultados sugerem que adoçantes não calóricos como a sucralose podem impactar diretamente os mecanismos cerebrais que regulam o apetite. Isso levanta questões sobre o uso desses adoçantes como estratégia para controle de peso, pois, paradoxalmente, podem aumentar a fome e levar ao consumo excessivo de alimentos em longo prazo.
LEIA MAIS:
Non-caloric sweetener effects on brain appetite regulation in individuals across varying body weights
Sandhya P. Chakravartti, Kay Jann, Ralf Veit, Hanyang Liu, Alexandra G. Yunker, Brendan Angelo, John R. Monterosso, Anny H. Xiang, Stephanie Kullmann and Kathleen A. Page
Nature Metabolism, volume 7, pages 574–585 (2025)
DOI: 10.1038/s42255-025-01227-8
Abstract:
Sucralose, a widely used non-caloric sweetener, provides sweet taste without calories. Some studies suggest that non-caloric sweeteners stimulate appetite, possibly owing to the delivery of a sweet taste without the post-ingestive metabolic signals that normally communicate with the hypothalamus to suppress hunger. In a randomized crossover trial (ClinicalTrials.gov identifier: NCT02945475), 75 young adults (healthy weight, overweight or with obesity) consumed a drink containing sucralose, sweetness-matched sucrose or water. We show that acute consumption of sucralose versus sucrose stimulates hypothalamic blood flow (P < 0.018) and greater hunger responses (P < 0.001). Sucralose versus water also increases hypothalamic blood flow (P < 0.019) but produces no difference in hunger ratings. Sucrose, but not sucralose, increases peripheral glucose levels, which are associated with reductions in medial hypothalamic blood flow (P < 0.007). Sucralose, compared to sucrose and water, results in increased functional connections between the hypothalamus and brain regions involved in motivation and somatosensory processing. These findings suggest that non-caloric sweeteners could affect key mechanisms in the hypothalamus responsible for appetite regulation.
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