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Alterações Cerebrais explicam a perda de Empatia na Demência


Resumo:

Um estudo do Karolinska Institute investigou a perda de empatia na demência frontotemporal variante comportamental (bvFTD) usando ressonância magnética funcional (fMRI) para analisar respostas cerebrais durante tarefas de empatia pela dor. Em 28 pacientes com bvFTD e 28 controles, os pesquisadores observaram redução significativa na atividade cerebral em regiões associadas à empatia afetiva, mas não à empatia cognitiva.


A demência frontotemporal variante comportamental (bvFTD) é uma condição caracterizada por mudanças significativas no comportamento e na personalidade, sendo a perda de empatia um dos sintomas centrais.


Empatia, especialmente o aspecto afetivo, parece ser prejudicada de forma independente de outras funções cognitivas ou socioemocionais nesses pacientes.


Nesse estudo, publicado por pesquisadores da Karolinska Institute,  teve como objetivo investigar como as respostas cerebrais durante tarefas de empatia pela dor (EFP) são alteradas em indivíduos com bvFTD.


Para isso, utilizou-se um paradigma já estabelecido de ressonância magnética funcional (fMRI). Essa técnica permite observar como diferentes áreas do cérebro respondem a estímulos específicos, oferecendo insights sobre o funcionamento neural relacionado à empatia. 

Os pesquisadores recrutaram 28 indivíduos com diagnóstico de bvFTD e 28 participantes cognitivamente normais para formar o grupo controle. O diagnóstico de bvFTD seguiu critérios internacionais aceitos, e os indivíduos foram avaliados usando o Índice de Reatividade Interpessoal (IRI), uma ferramenta que mede diferentes dimensões da empatia.


O estudo foi conduzido em conformidade com diretrizes éticas internacionais e locais, com consentimento informado por escrito obtido de todos os participantes.


Durante os experimentos, os participantes realizaram tarefas específicas que envolviam empatia pela dor, enquanto sua atividade cerebral era monitorada por fMRI. O paradigma incluía uma condição de controle e uma condição de dor. A diferença na resposta neural entre essas condições foi analisada por meio do sinal dependente do nível de oxigênio no sangue (BOLD), que indica a atividade cerebral.


Para identificar diferenças entre os grupos, os pesquisadores usaram testes estatísticos apropriados. No caso de variáveis normalmente distribuídas, foram aplicados testes t de Student. Para variáveis com distribuições diferentes, utilizaram-se testes U de Mann-Whitney. Um valor de P menor que 0,05 foi considerado estatisticamente significativo.


Foram usadas duas abordagens principais para analisar áreas cerebrais específicas:


  • Uma baseada em meta-análises anteriores, que identificaram áreas geralmente ativadas durante tarefas de empatia pela dor.


  • Outra baseada no padrão de ativação observado nos controles durante o experimento, conhecida como CA-ROI.


Essa última abordagem foi usada para explorar associações entre atividade neural e os resultados do IRI, que reflete a capacidade empática de cada indivíduo.


Os resultados demostram que os controles apresentaram maior ativação em 12 áreas cerebrais relacionadas à empatia pela dor, enquanto os pacientes com bvFTD mostraram ativação em apenas 2 áreas.

Paradigma experimental de fMRI e mudança de sinal BOLD no contraste de empatia da dor. A figura mostra exemplo das 20 imagens de um cotonete tocando uma mão (A) e 1 exemplo das 20 imagens de uma agulha furando uma mão (B) exibidas durante o experimento de imagem por ressonância magnética funcional (fMRI). Uma cruz de fixação é exibida por 3 a 5 segundos, seguida pelo texto “O que a mão está sentindo?” exibido por 3 segundos. Posteriormente, a imagem é exibida por 3,5 segundos, após o que uma imagem preta é exibida por 4,5 segundos antes de um novo ciclo ser iniciado com uma nova cruz de fixação. Áreas com aumento significativo do sinal dependente do nível de oxigênio no sangue (BOLD) em participantes de controle (C) e em pacientes com demência frontotemporal variante comportamental (D) no contraste de empatia da dor. A barra colorida exibe pontuações z (z vermelho > 3,1, z amarelo = 4,5).


Também, uma redução no sinal BOLD foi especialmente notável no ROI associado à empatia afetiva (controle: aumento médio de 20,86%; bvFTD: redução média de -1,26%). Curiosamente, a empatia cognitiva não mostrou alterações significativas.


Além disso, em controles, a atividade cerebral nas regiões de interesse foi positivamente correlacionada com a autoavaliação da empatia no IRI, enquanto em pacientes, foi correlacionada com avaliações feitas por familiares.


Os resultados indicam que indivíduos com bvFTD apresentam atividade neural reduzida em áreas cerebrais fundamentais para o processamento da empatia. 

Essas regiões são conhecidas por serem precocemente afetadas na bvFTD, o que reforça a importância de investigar o papel do cérebro em funções sociais complexas. O estudo também mostrou que o nível de empatia, conforme avaliado por familiares, estava relacionado à magnitude da atividade neural observada.


Embora os resultados sejam significativos, o estudo possui algumas limitações. Foram usados diferentes scanners de ressonância magnética, o que pode introduzir variabilidade. A amostra incluiu casos genéticos e esporádicos de bvFTD, o que pode influenciar os achados. Não houve confirmação neuropatológica dos diagnósticos, o que reduz a precisão absoluta na classificação dos pacientes.


Essas limitações foram abordadas em análises de sensibilidade, mas ainda devem ser consideradas ao interpretar os resultados.


Este estudo fornece evidências importantes de que a empatia, particularmente seu componente afetivo, está comprometida em pacientes com bvFTD. A fMRI mostrou-se uma ferramenta poderosa para explorar essas alterações cerebrais e relacioná-las aos sintomas observados na vida diária dos pacientes. Além disso, os achados destacam a relevância de abordagens diagnósticas que integrem neuroimagem e avaliações comportamentais.



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Altered Empathy Processing in Frontotemporal Dementia

Olof Lindberg, Tie-Qiang Li, Cecilia Lind,  Susanna Vestberg, Ove Almkvist, Mikael Stiernstedt, Anita Ericson, Nenad Bogdanovic,  Oskar Hansson, Luke Harper, Eric Westman,Caroline Graff, Theofanis Tsevis, Peter Mannfolk, Håkan Fischer,  Gustav Nilsonne, Predrag Petrovic, Lars Nyberg, Lars-Olof Wahlund, and Alexander F. Santillo

JAMA Netw Open. 2024;7(12):e2448601. 

doi:10.1001/jamanetworkopen.2024.48601

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