top of page

Adolescentes que Dormem Mais Cedo Têm Cérebro Mais Afiado, Diz Estudo

  • Foto do escritor: Lidi Garcia
    Lidi Garcia
  • 30 de abr.
  • 4 min de leitura

Durante a adolescência, o sono passa por muitas mudanças, e isso afeta diretamente o desenvolvimento do cérebro. Um estudo com milhares de adolescentes mostrou que quem dorme melhor (mais cedo, por mais tempo e com batimentos cardíacos mais baixos) tem melhor desenvolvimento cerebral e desempenho cognitivo. Esses achados reforçam como bons hábitos de sono são essenciais para o crescimento saudável do corpo e da mente.


O sono é fundamental para a nossa saúde e bem-estar. Ele não só ajuda a manter o corpo funcionando bem, como também é essencial para o desenvolvimento do cérebro e o bom desempenho das funções mentais, como aprender, lembrar, tomar decisões e controlar emoções.


Durante a adolescência, é comum que os padrões de sono mudem. Os jovens costumam dormir menos, demoram mais para pegar no sono e tendem a ir dormir mais tarde do que quando eram crianças. 


Essas mudanças fazem parte do crescimento e acontecem ao mesmo tempo em que o cérebro está passando por várias transformações importantes. Por isso, entender como o sono se relaciona com o desenvolvimento do cérebro e da mente nessa fase é algo muito relevante. 

Alguns estudos já mostraram que certas características do sono podem estar ligadas à estrutura e ao funcionamento do cérebro em adolescentes. No entanto, a maioria dessas pesquisas depende de relatos dos próprios adolescentes, o que pode ser impreciso, muitos jovens acabam exagerando ou se confundindo ao descrever seus hábitos de sono. 


Além disso, essas pesquisas geralmente olham apenas para um aspecto do sono por vez, o que dificulta a compreensão do quadro completo.


Hoje, com a ajuda de tecnologias como os relógios inteligentes (como o Fitbit), os cientistas conseguem medir o sono de maneira mais objetiva e detalhada.


Isso inclui não apenas a duração do sono, mas também a frequência cardíaca, o horário em que a pessoa adormece e o tempo passado em diferentes fases do sono. Ainda assim, muitos estudos que usam essas tecnologias ainda têm poucos participantes, o que limita a força das conclusões.

Neste novo estudo, pesquisadores analisaram dados de mais de 3 mil adolescentes de um grande  projeto americano chamado ABCD (Desenvolvimento Cognitivo do Cérebro do Adolescente). Eles usaram uma técnica avançada de análise de dados chamada sCCA (análise de correlação canônica esparsa) para encontrar padrões entre as características do sono e as imagens do cérebro desses jovens.

Essa imagem é um resumo visual do estudo que investigou como o sono dos adolescentes está ligado ao desenvolvimento do cérebro e às habilidades cognitivas (como memória, atenção e desempenho escolar).


  1. Participantes: Os pesquisadores acompanharam milhares de adolescentes em dois momentos: primeiro entre 11 e 12 anos, depois entre 13 e 14 anos.


  2. O que eles mediram: Usaram relógios inteligentes (tipo Fitbit) para monitorar como os adolescentes dormiam durante 3 semanas, por exemplo, quanto tempo dormiam, a que horas dormiam e a frequência cardíaca durante o sono. Fizeram exames de imagem do cérebro para analisar o tamanho e a atividade de várias partes do cérebro.


  3. Objetivo 1: descobrir como o sono afeta o cérebro

    Eles usaram um tipo avançado de análise para encontrar padrões entre o jeito de dormir dos adolescentes e as mudanças no cérebro. Por exemplo, descobriram que dormir mais tarde e por menos tempo estava ligado a conexões cerebrais mais fracas.


  4. Objetivo 2: entender as consequências disso

    Com base nesses padrões, os adolescentes foram divididos em três grupos ("biotipos") com características diferentes de sono, cérebro e cognição. Um dos grupos, por exemplo, dormia mais cedo e por mais tempo, e esse grupo teve melhores resultados cognitivos ao longo do tempo.


Os pesquisadores encontraram duas ligações principais entre o sono e o cérebro. A primeira mostrou que adolescentes que dormem menos e vão para a cama mais tarde tendem a ter uma comunicação mais fraca entre regiões importantes do cérebro. 


A segunda revelou que quem tem uma frequência cardíaca mais alta durante o sono (o que pode indicar menor qualidade do descanso) também tende a ter menor volume cerebral e menor conectividade entre áreas cerebrais. 


Com base nesses achados, os cientistas identificaram três grupos principais de padrões de sono (chamados de "biótipos"). Um grupo dormia pouco e tarde, com batimentos cardíacos mais elevados durante o sono. Outro dormia cedo e por mais tempo, com batimentos mais baixos, esse grupo teve os melhores resultados nos testes de raciocínio e aprendizado. Um terceiro grupo ficou no meio-termo.

Os pesquisadores acompanharam esses adolescentes por alguns anos, dos 9 aos 14 anos de idade, e perceberam que esses padrões de sono estavam ligados a diferenças reais no desenvolvimento do cérebro e no desempenho escolar. Ou seja, o tipo de sono que um jovem tem pode influenciar de forma importante seu desenvolvimento mental e acadêmico.


Esses resultados mostram como o sono não é apenas uma questão de "dormir ou não dormir", mas sim um fator profundamente ligado ao funcionamento do cérebro.


Compreender esses padrões pode ajudar pais, educadores e profissionais de saúde a pensar em formas de melhorar os hábitos de sono dos adolescentes, o que pode trazer benefícios diretos para o aprendizado, a memória, o humor e até a saúde mental a longo prazo.



LEIA MAIS:


Neural correlates of device-based sleep characteristics in adolescents

Qing Ma, Barbara J. Sahakian, Bei Zhang, Zeyu Li, Jin-Tai Yu, Fei Li, Jianfeng Feng, Wei Cheng 

Cell Reports. Volume 44, Issue 5115565, May 27, 2025

DOI: 10.1016/j.celrep.2025.115565


Abstract:


Understanding the brain mechanisms underlying adolescent sleep patterns and their impact on psychophysiological development is complex. We applied sparse canonical correlation analysis (sCCA) to data from 3,222 adolescents in the Adolescent Brain Cognitive Development (ABCD) study, integrating sleep characteristics with multimodal imaging. This reveals two key sleep-brain dimensions: one linking later sleep onset and shorter duration to decreased subcortical-cortical connectivity and another associating a higher heart rate and shorter light sleep with lower brain volumes and connectivity. Hierarchical clustering identifies three biotypes: biotype 1 has delayed, shorter sleep with a higher heart rate; biotype 3 has earlier, longer sleep with a lower heart rate; and biotype 2 is intermediate. These biotypes also differ in cognitive performance and brain structure and function. Longitudinal analysis confirms these differences from ages 9 to 14, with biotype 3 showing consistent cognitive advantages. Our findings offer insights into optimizing sleep routines for better cognitive development.

Comments


© 2020-2025 by Lidiane Garcia

bottom of page