top of page

A Ilusão do Peso: Como o Cérebro Distingue Nosso Corpo dos Objetos


Nesse estudo os achados sugerem que a percepção do peso do corpo é processada de maneira distinta da percepção do peso de objetos, com implicações importantes para entender como o cérebro integra informações sensoriais e motoras para formar uma percepção coerente do corpo e seu ambiente. A incapacidade de perceber o corpo de forma precisa pode levar a comportamentos alimentares prejudiciais e à manutenção de crenças negativas sobre o próprio corpo, exacerbando o ciclo do transtorno alimentar.


A percepção do peso de um objeto é fortemente influenciada por seu tamanho, mas como isso se aplica ao peso de partes do nosso corpo? Nosso corpo, além de ser uma parte fundamental de nossa identidade, é um objeto físico com propriedades mensuráveis, como volume, densidade e peso. 


Durante qualquer movimento, fazemos esforço para sustentar o peso de nossos membros, mas ao contrário do peso de objetos externos, raramente estamos conscientes desse esforço.


Isso levanta a questão: como o cérebro determina o peso de partes do corpo em comparação com objetos externos?


Em física, o peso é derivado do produto da massa de um objeto e da aceleração gravitacional. Entretanto, no cérebro humano, não há receptores específicos para o peso. Em vez disso, o cérebro usa uma combinação de sinais proprioceptivos, vestibulares, auditivos, visuais e comandos motores para calcular uma representação do peso.


Compreender como a percepção de volume influencia a percepção de peso pode nos ajudar a entender melhor como o cérebro calcula o peso.


A percepção corporal distorcida está intimamente relacionada a transtornos alimentares, como anorexia nervosa e bulimia. Nesses casos, indivíduos frequentemente percebem seu corpo de maneira irreal, acreditando estar acima do peso mesmo quando estão em um estado de desnutrição. 

Essa distorção na percepção do tamanho e forma do corpo pode surgir devido a fatores psicológicos, sociais e biológicos, começando geralmente na adolescência ou início da idade adulta. 


A incapacidade de perceber o corpo de forma precisa pode levar a comportamentos alimentares prejudiciais e à manutenção de crenças negativas sobre o próprio corpo, exacerbando o ciclo do transtorno alimentar.


Por mais de um século, pesquisas mostraram que objetos menores de massa semelhante a objetos maiores parecem mais pesados, um fenômeno conhecido como ilusão de tamanho-peso (SWI). 


Mesmo quando os participantes esperam que um objeto menor seja mais pesado, eles ainda o percebem como mais pesado. Essa ilusão sugere que o tamanho percebido influencia o peso percebido, e diferentes teorias tentam explicar esse fenômeno.


Surpreendentemente, o efeito do tamanho sobre a percepção do peso persiste mesmo quando o volume total de objetos é mantido constante, alterando apenas a percepção do espaço que ocupam. Isso levanta a possibilidade de que o tamanho percebido de partes do corpo também possa influenciar a percepção de seu peso.


Estudos sobre a percepção do peso corporal demonstram que ela é altamente flexível e pode mudar com base em sinais sensoriais, como alterações na gravidade ou estímulos auditivos.  

Durante situações de microgravidade, como em voos parabólicos, os participantes relatam sentir suas mãos mais leves, enquanto em condições de hipergravidade, sentem suas mãos mais pesadas.


O tamanho percebido do corpo também afeta como experimentamos dor, controle motor e percepção tátil. Estudos mostram que visualizar uma mão aumentada pode melhorar o desempenho motor e reduzir a dor. Essa mudança na percepção é acompanhada por uma reconfiguração dos recursos cerebrais alocados à parte do corpo ampliada.


Para explorar como o tamanho percebido da mão influencia seu peso percebido, pesquisadores da University of London manipularam a percepção do tamanho das mãos de 20 participantes saudáveis (15 mulheres e 5 homens, com idade media de 32 anos) usando ilusões visuais-táteis. 


Os participantes visualizaram suas mãos através de espelhos que as faziam parecer maiores, normais ou menores. Em seguida, julgaram o peso de sua mão em comparação com pesos pendurados em seus pulsos.

Os resultados mostraram que os participantes tendiam a subestimar mais o peso de suas mãos quando as percebiam como menores e menos quando as percebiam como maiores. Isso indica que o tamanho percebido da mão influencia diretamente a percepção de seu peso. 


Diferentemente dos objetos externos, a percepção do peso das partes do corpo parece seguir um modelo de densidade constante, onde uma mão maior é percebida como mais pesada devido à maior quantidade de "material" percebido, enquanto uma mão menor parece mais leve.


Esses achados sugerem que a percepção do peso do corpo é processada de maneira distinta da percepção do peso de objetos, com implicações importantes para entender como o cérebro integra informações sensoriais e motoras para formar uma percepção coerente do corpo e seu ambiente.



LEIA MAIS:


Perceived hand size and perceived hand weight

Denise Cadete, Vincenzo P. Marino, Elisa R. Ferrè, and Matthew R. Longo

Cognition, Volume 254, January 2025, 105998


Abstract:


The dimensions of objects and our body parts influence our perception of the weight of objects in our surroundings. It has been recently described a dramatic underestimation of the perceived weight of the hand. However, little is known on how perceived size informs the perceived weight of our own body parts. Here we investigated the effects of embodying an enlarged and a shrunken hand on perceived hand weight. We manipulated hand size using a visual-tactile illusion with magnifying and minifying mirrors. We then measured perceived hand weight using a psychophysical matching task in which participants estimate if a weight hanged on their wrist feels heavier or lighter than the experienced weight of their hand. Our results indicated that participants tended to underestimate the weight of their hand more when embodying a smaller hand, and less so when embodying a larger hand. That is, the perceived size of the hand plays a role in shaping its perceived weight. Importantly, our results revealed that the perception of the weight of body parts is processed differently from the perception of object weight, demonstrating resistance to the size-weight illusion. We suggest a model based on constant density to elucidate the influence of hand size in determining hand weight.

Comentarios


© 2024 by Lidiane Garcia

bottom of page