Todos os estudos sugerem que o TEPT continua a afetar uma parcela significativa da população, com variações notáveis entre gêneros e faixas etárias. Essa diferença é mais pronunciada em algumas idades, como a meia-idade, onde mulheres podem apresentar sintomas mais graves entre as idades 51-55 anos e homens entre 41-45 anos.
O transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) é uma condição mental que pode surgir após a exposição a eventos traumáticos, como acidentes graves, violência ou desastres naturais.
Caracteriza-se por uma combinação de sintomas que incluem pensamentos intrusivos sobre o evento, uma constante sensação de hiperalerta, comportamento de evitação de situações ou lugares associados ao trauma e mudanças negativas no humor e nas cognições.
Para alguns indivíduos, esses sintomas tornam-se persistentes e afetam gravemente a qualidade de vida.
Estima-se que aproximadamente 5,6% dos adultos que vivenciam traumas desenvolvam TEPT ao longo da vida, sendo as taxas mais altas observadas em pessoas expostas a níveis elevados de trauma, como sobreviventes de guerras e vítimas de agressão física.
Além do impacto emocional e psicológico, o TEPT representa um peso significativo para a economia, devido aos custos associados ao tratamento e à perda de produtividade. Essa condição frequentemente persiste ao longo da vida e requer intervenções eficazes para melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
Pesquisas avançadas têm contribuído para uma compreensão mais profunda da biologia do TEPT. Estudos pré-clínicos, focados no sistema de medo do cérebro, têm revelado como alterações em regiões específicas, como a amígdala, o córtex pré-frontal ventromedial e o cíngulo anterior, podem levar à desregulação emocional.
Por exemplo, a amígdala, que é crucial para processar respostas ao medo, pode apresentar hiperatividade no TEPT, enquanto o córtex pré-frontal, responsável por regular essas respostas, pode estar menos ativo.
Além disso, estudos neuroendócrinos apontaram alterações no eixo hipotálamo-pituitária-adrenal (HPA), que regula o estresse, e no funcionamento dos glicocorticoides, hormônios envolvidos na resposta ao estresse.
Do ponto de vista genético, sabe-se que fatores hereditários desempenham um papel significativo no risco de desenvolver TEPT.
Grandes estudos de associação genômica ampla (GWAS) têm revelado que o TEPT é altamente poligênico, ou seja, influenciado por um grande número de genes.
Projetos de pesquisa como o Psychiatric Genomic Consortium for PTSD (PGC-PTSD) e o VA Million Veteran Program (MVP) identificaram 16 loci genéticos de risco, embora esses achados ainda não sejam consistentes entre diferentes conjuntos de dados. Isso sugere a necessidade de estudos ainda maiores e mais abrangentes.
Recentemente, foi descoberto que genes localizados no cromossomo X, que é importante para a determinação do sexo, podem desempenhar um papel relevante, especialmente considerando as diferenças entre os gêneros na prevalência do TEPT.
As mulheres têm uma prevalência significativamente maior de TEPT em comparação aos homens, com estudos indicando taxas de 5,2% para mulheres e 1,8% para homens nos Estados Unidos.
Essa diferença é mais pronunciada em algumas faixas etárias, como a meia-idade, onde mulheres podem apresentar sintomas mais graves. No entanto, entre jovens adultos (18 a 24 anos) e pessoas mais velhas (acima de 55 anos), as diferenças entre os gêneros tendem a ser menos evidentes.
Em outra pesquisa, foram analisados dados coletados de estudos dinamarqueses e nórdicos anteriores sobre TEPT ou trauma. A amostra final foi composta por 6.548 participantes, 2.768 (42,3%) homens e 3.780 (57,7%) mulheres. O TEPT foi medido com base no Questionário de Trauma de Harvard, parte IV (HTQ-IV).
Homens e mulheres diferiram na distribuição do TEPT ao longo da vida. A maior prevalência de TEPT foi observada no início dos 40 anos para homens e no início dos 50 anos para mulheres, enquanto a menor prevalência para ambos os sexos foi no início dos 70 anos.
As mulheres tiveram uma prevalência geral de TEPT duas vezes maior do que os homens. No entanto, em algumas idades, a proporção de mulheres para homens era de quase 3:1. A maior proporção de mulheres para homens foi encontrada para os jovens de 21 a 25 anos.
Grafico de prevalencia do TEPT em adultos. Com base em dados de entrevistas diagnósticas do National Comorbidity Survey Replication (NCS-R).
Globalmente, a prevalência do TEPT varia dependendo de fatores culturais, sociais e do tipo de evento traumático. Por exemplo, nos Estados Unidos, as taxas de prevalência ao longo da vida são de 6,8%, enquanto no Brasil variam entre 2,1% e 4,3%, dependendo do período considerado.
Além das descobertas sobre prevalência e fatores genéticos, estudos recentes fizeram avanços significativos ao identificar 95 loci genéticos associados ao TEPT, sendo 80 deles novos. Esses genes estão relacionados a processos como regulação do estresse, desenvolvimento neural, função sináptica e resposta imunológica.
Por exemplo, genes como GRIA1 e GRM8 estão envolvidos na sinalização de neurotransmissores, enquanto FOXP2 está relacionado à orientação e desenvolvimento neuronal. Essas descobertas oferecem novas perspectivas sobre os sistemas biológicos que sustentam o TEPT, abrindo caminho para o desenvolvimento de tratamentos mais eficazes.
O TEPT também é frequentemente associado a outras condições de saúde mental, como depressão e transtorno de déficit de atenção, e físicas, como doenças cardiovasculares e obesidade. No entanto, os estudos sobre essas interações ainda são limitados.
À medida que os pesquisadores continuam a explorar a genética e a neurobiologia do TEPT, espera-se que novos alvos terapêuticos sejam identificados, permitindo diagnósticos mais precisos e tratamentos personalizados.
Esses avanços enfatizam a complexidade do TEPT, sua interação com fatores genéticos, biológicos e sociais, e a necessidade de estratégias adaptadas às características individuais dos pacientes. A pesquisa contínua nesse campo é fundamental para enfrentar os desafios do diagnóstico e tratamento dessa condição debilitante.
LEIA MAIS:
National Institute of Mental Health. Post-Traumatic Stress Disorder (PTSD).
The combined effect of gender and age on post traumatic stress disorder: do men and women show differences in the lifespan distribution of the disorder?
Daniel N Ditlevsen and Ask Elklit
Annals of General Psychiatry. volume 9, Article number: 32 (2010)
Genome-wide association analyses identify 95 risk loci and provide insights into the neurobiology of posttraumatic stress disorder
Nievergelt CM et al.
Nat Genet. 2024 May; 56 (5) :792-808.
doi: 10.1038/s41588-024-01707-9.
Abstract:
Posttraumatic stress disorder (PTSD) genetics are characterized by lower discoverability than most other psychiatric disorders. The contribution to biological understanding from previous genetic studies has thus been limited. We performed a multi-ancestry meta-analysis of genome-wide association studies across 1,222,882 individuals of European ancestry (137,136 cases) and 58,051 admixed individuals with African and Native American ancestry (13,624 cases). We identified 95 genome-wide significant loci (80 novel). Convergent multi-omic approaches identified 43 potential causal genes, broadly classified as neurotransmitter and ion channel synaptic modulators (e.g., GRIA1, GRM8, CACNA1E), developmental, axon guidance, and transcription factors (e.g., FOXP2, EFNA5, DCC), synaptic structure and function genes (e.g., PCLO, NCAM1, PDE4B), and endocrine or immune regulators (e.g., ESR1, TRAF3, TANK). Additional top genes influence stress, immune, fear, and threat-related processes, previously hypothesized to underlie PTSD neurobiology. These findings strengthen our understanding of neurobiological systems relevant to PTSD pathophysiology, while also opening new areas for investigation.
Comments