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A Conexão Oculta: Uso de Psicodélicos e risco de Esquizofrenia



Resumo:

O estudo reforça a necessidade de maior conscientização e vigilância em relação ao uso de alucinógenos. Apesar de seu potencial em algumas aplicações terapêuticas, como no tratamento de distúrbios mentais, o risco de desenvolvimento de transtornos psicóticos entre usuários vulneráveis deve ser cuidadosamente avaliado. Além disso, a crescente busca por atendimento médico relacionada a essas substâncias sugere a urgência de estratégias preventivas e educacionais que equilibrem seus benefícios e riscos.


Nos últimos anos, o interesse e o uso de substâncias alucinógenas têm crescido rapidamente, levantando preocupações sobre possíveis riscos associados, como o desenvolvimento de transtornos psicóticos.


Apesar de serem discutidos frequentemente, ainda há poucos dados científicos para avaliar a real conexão entre o uso de alucinógenos e o risco de transtornos como a esquizofrenia.


O objetivo principal deste estudo, realizado na University of Ottawa,  foi investigar se pessoas que buscaram atendimento em um departamento de emergência (DE) devido ao uso de alucinógenos tinham maior probabilidade de desenvolver um transtorno do espectro da esquizofrenia (TEE) no futuro.


Essa pesquisa utilizou dados de Ontário, no Canadá, abrangendo o período de janeiro de 2008 a dezembro de 2021, com análises realizadas entre maio e agosto de 2024.


Os pesquisadores analisaram um vasto banco de dados de saúde, abrangendo mais de 9 milhões de indivíduos com idades entre 14 e 65 anos, todos sem histórico prévio de transtornos psicóticos. Entre esses, foram identificados aqueles que tiveram visitas ao DE relacionadas ao uso de alucinógenos.


Essas pessoas foram comparadas com dois grupos: a população geral e indivíduos que buscaram atendimento por causa do uso de álcool ou cannabis.


A principal medida foi o diagnóstico subsequente de um transtorno do espectro da esquizofrenia (TEE), avaliado por um algoritmo validado em prontuários médicos. O acompanhamento médio dos participantes foi de pouco mais de 5 anos.


O estudo revelou tendências marcantes relacionadas ao uso de alucinógenos e o risco de transtornos psicóticos, destacando um aumento significativo na frequência de visitas aos departamentos de emergência (DE) por essas substâncias e uma conexão clara com o desenvolvimento de transtornos do espectro da esquizofrenia (TEE).


As visitas ao DE relacionadas ao uso de alucinógenos cresceram de forma expressiva, especialmente a partir de 2013. Entre 2008 e 2021, o número de casos aumentou 86,4%. Em termos absolutos, a taxa anual passou de 3,4 visitas por 100 mil pessoas em 2008 para 6,4 visitas por 100 mil em 2021. Esse crescimento ressalta uma tendência preocupante no uso dessas substâncias e sua associação com complicações de saúde. 


Os dados indicaram que pessoas que buscaram atendimento de emergência devido ao uso de alucinógenos tinham um risco muito maior de desenvolver um transtorno do espectro da esquizofrenia nos três anos seguintes.


Entre os usuários de alucinógenos atendidos no DE, 3,99% receberam o diagnóstico de TEE, em comparação com apenas 0,15% da população geral. Essa diferença reflete um risco substancialmente ampliado para aqueles expostos a essas substâncias.


Mesmo após ajustar os resultados para fatores como idade, sexo e condições de saúde mental, os usuários de alucinógenos continuaram apresentando um risco elevado de desenvolver TEE. Especificamente, essas pessoas tinham 3,5 vezes mais chances de receber o diagnóstico em comparação com indivíduos da população geral sem histórico de uso de alucinógenos.


Quando comparados a indivíduos que visitaram o DE por uso de álcool, o risco de TEE foi 4,6 vezes maior para usuários de alucinógenos. Em relação a usuários de cannabis, o risco foi 1,5 vez maior. Esses números destacam que o uso de alucinógenos está mais fortemente associado ao desenvolvimento de transtornos psicóticos do que outras substâncias, como álcool e cannabis.

Image: Patani App

Esses resultados sugerem que o uso de alucinógenos, especialmente em níveis que levam a uma emergência médica, está associado a um risco substancialmente aumentado de transtornos psicóticos. Isso tem implicações importantes para a saúde pública e políticas de regulação, considerando o aumento do interesse e uso de alucinógenos, tanto recreativos quanto em contextos terapêuticos.


O estudo reforça a necessidade de maior conscientização e vigilância em relação ao uso de alucinógenos. Apesar de seu potencial em algumas aplicações terapêuticas, como no tratamento de distúrbios mentais, o risco de desenvolvimento de transtornos psicóticos entre usuários vulneráveis deve ser cuidadosamente avaliado.


Além disso, a crescente busca por atendimento médico relacionada a essas substâncias sugere a urgência de estratégias preventivas e educacionais que equilibrem seus benefícios e riscos.



LEIA MAIS:


Emergency Department Visits Involving Hallucinogen Use and Risk of Schizophrenia Spectrum Disorder

Daniel T. Myran, Michael Pugliese, Jennifer Xiao, Tyler S. Kaster, M. Ishrat Husain, Kelly K. Anderson, Nicholas Fabiano,  Stanley Wong, Jess G. Fiedorowicz, Colleen Webber, Peter Tanuseputro, and Marco Solmi 

JAMA Psychiatry. Published online November 13, 2024. 

doi:10.1001/jamapsychiatry.2024.3532


Abstract:


Interest in and use of hallucinogens has been increasing rapidly. While a frequently raised concern is that hallucinogens may be associated with an increased risk of psychosis, there are limited data on this association. To examine whether individuals with an emergency department (ED) visit involving hallucinogen use have an increased risk of developing a schizophrenia spectrum disorder (SSD). This population-based, retrospective cohort study (January 2008 to December 2021) included all individuals aged 14 to 65 years in Ontario, Canada, with no history of psychosis (SSD or substance induced). Data were analyzed from May to August 2024. An incident ED visit involving hallucinogen use. Diagnosis of SSD using a medical record–validated algorithm. Associations between ED visits involving hallucinogens and SSD were estimated using cause-specific adjusted hazard models. Individuals with an incident ED visit involving hallucinogens were compared with members of the general population (primary analysis) or individuals with ED visits involving alcohol or cannabis (secondary analysis). The study included 9 244 292 individuals (mean [SD] age, 40.4 [14.7] years; 50.2% female) without a history of psychosis, with a median follow-up of 5.1 years (IQR, 2.3-8.6 years); 5217 (0.1%) had an incident ED visit involving hallucinogen use. Annual rates of incident ED visits involving hallucinogens were stable between 2008 and 2012 and then increased by 86.4% between 2013 and 2021 (3.4 vs 6.4 per 100 000 individuals). Individuals with ED visits involving hallucinogens had a greater risk of being diagnosed with an SSD within 3 years compared with the general population (age- and sex-adjusted hazard ratio [HR], 21.32 [95% CI, 18.58-24.47]; absolute proportion with SSD at 3 years, 208 of 5217 with hallucinogen use [3.99%] vs 13 639 of 9 239 075 in the general population [0.15%]). After adjustment for comorbid substance use and mental health conditions, individuals with hallucinogen ED visits had a greater risk of SSD compared with the general population (HR, 3.53; 95% CI, 3.05-4.09). Emergency department visits involving hallucinogens were associated with an increased risk of SSD within 3 years compared with ED visits involving alcohol (HR, 4.66; 95% CI, 3.82-5.68) and cannabis (HR, 1.47; 95% CI, 1.21-1.80) in the fully adjusted model.  In this cohort study, individuals with an ED visit involving hallucinogen use had a greater risk of developing an SSD compared with both the general population and with individuals with ED visits for other types of substances. These findings have important clinical and policy implications given the increasing use of hallucinogens and associated ED visits.

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