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Açúcar no Sangue em Alta: Impactos Cerebrais mesmo sem diagnóstico de Diabetes


Resumo:

O estudo revelou que níveis mais altos de glicose no sangue (HbA1c) estão associados a menor atividade do sistema nervoso autônomo (avaliada pela variabilidade da frequência cardíaca, VFC) e a menor conectividade funcional em redes cerebrais relacionadas ao controle autonômico (S-CAN). Essas associações foram mais pronunciadas em adultos mais velhos (para HbA1c e conectividade) e em mulheres (para VFC e conectividade).


O controle glicêmico refere-se à capacidade do corpo de manter os níveis de glicose no sangue dentro de uma faixa saudável. Ele desempenha um papel crucial para o funcionamento adequado do sistema cardiovascular, da saúde psicológica e do cérebro. 


Uma forma de medir o controle glicêmico a longo prazo (ao longo de aproximadamente três meses) é por meio de um exame chamado hemoglobina glicada (HbA1c).


Pesquisas com pessoas diagnosticadas com diabetes demonstraram que o controle glicêmico e a função cerebral estão intimamente ligados à variabilidade da frequência cardíaca (VFC), que é um indicador do funcionamento do sistema nervoso autônomo (SNA).  

O SNA controla funções corporais automáticas, como batimentos cardíacos e respiração. Estudos sugerem que o SNA, medido pela VFC, pode desempenhar um papel importante na relação entre o controle glicêmico e a função cerebral.


Embora o controle glicêmico prejudicado seja geralmente associado ao diabetes, é importante notar que mesmo indivíduos sem o diagnóstico de diabetes podem apresentar variações significativas nessa capacidade. Por exemplo, algumas pessoas são classificadas como pré-diabéticas, com níveis de HbA1c entre 5,7% e 6,4%. 


Esses níveis indicam glicemia elevada, mas ainda não alta o suficiente para ser considerada diabetes. Essa condição é mais comum em adultos mais velhos. No entanto, não se sabe ao certo se os achados sobre o impacto do diabetes na saúde cerebral podem ser generalizados para pessoas saudáveis.


A VFC é uma medida da variação no intervalo de tempo entre os batimentos cardíacos consecutivos e é um indicador valioso da atividade do SNA. Essa medida pode ser decomposta em diferentes métricas. Por exemplo:


  • RMSSD (raiz quadrada da média dos quadrados das diferenças entre os intervalos de batimentos cardíacos): Reflete principalmente a atividade do sistema nervoso parassimpático.


  • HF-HRV (variabilidade da frequência cardíaca de alta frequência): Um marcador confiável da atividade parassimpática.


Estudos em pessoas com diabetes ou pré-diabetes mostram uma correlação inversa entre os níveis de glicose no sangue e a VFC. Isso ocorre devido ao desenvolvimento de neuropatia autonômica cardíaca, uma condição em que níveis elevados de glicose danificam progressivamente os nervos do sistema parassimpático, particularmente o nervo vago, e, eventualmente, afetam o sistema simpático. 

Nos indivíduos saudáveis, a relação entre controle glicêmico e VFC é menos clara. Alguns estudos mostram que níveis elevados de glicose no sangue estão associados a uma menor VFC, semelhante ao que é observado em pessoas com diabetes, mas outros estudos não encontraram essa associação.


Essas discrepâncias podem ser explicadas por fatores como idade e sexo, que ainda não foram completamente explorados em estudos de populações saudáveis.


O envelhecimento está associado a níveis mais altos de glicose no sangue, independentemente do sexo, e também a uma redução da atividade parassimpática do SNA até os 70 anos, conforme indicado por métricas como o RMSSD. 


Além disso, mulheres apresentam melhor controle glicêmico a longo prazo (HbA1c mais baixo) em comparação aos homens, até atingirem a menopausa. Em contraste, as mulheres geralmente apresentam uma VFC menor ao longo da vida em relação aos homens. A VFC também parece estar ligada ao estado da menopausa, sugerindo que idade e sexo interagem para influenciar o funcionamento do SNA.


A VFC não apenas reflete a atividade do SNA, mas também está associada à atividade de regiões cerebrais. Estudos de neuroimagem mostram que flutuações na VFC estão correlacionadas com a conectividade funcional (FC) de redes cerebrais relacionadas ao SNA, como a rede central-autonômica (S-CAN) e a rede de saliência (SN). 


Essas redes envolvem áreas importantes como a ínsula, a amígdala e o córtex cingulado anterior, que ajudam a regular respostas emocionais, sensoriais e autonômicas.


Para explorar essas relações, um estudo recente com 146 adultos saudáveis investigou as conexões entre controle glicêmico (medido por HbA1c), VFC e conectividade funcional em redes cerebrais associadas ao SNA.  

Variabilidade da frequência cardíaca e longevidade. Fonte; Timeline Longevity


Os pesquisadores formularam várias hipóteses que incluem se a HbA1c mais alto estaria associado à redução da atividade parassimpática (medida por RMSSD e HF-HRV). Ou, a HbA1c mais alto estaria associado a uma conectividade funcional reduzida nas redes S-CAN e SN. Alem disso, a atividade parassimpática (VFC) e a conectividade funcional estariam correlacionadas entre si. Por fim, as relações entre HbA1c, VFC e conectividade funcional variariam de acordo com idade e sexo.


Os resultados mostraram que HbA1c estava inversamente relacionado à conectividade funcional na rede S-CAN, mas não na SN. Além disso, HbA1c foi inversamente relacionado à VFC.


Diferenças importantes surgiram, a relação entre HbA1c e conectividade funcional foi mais forte em adultos mais velhos, sendo a idade um importante fator. Também as associações entre VFC e conectividade funcional foram mais evidentes em mulheres.


Este estudo avança nosso entendimento das interações entre controle glicêmico, SNA e função cerebral, estendendo achados de populações com diabetes para indivíduos saudáveis. Ele também destaca o papel de fatores como idade e sexo nessas relações, sublinhando a importância de levar essas variáveis em consideração em pesquisas futuras.



LEIA MAIS:


The associations among glycemic control, heart variability, and autonomic brain function in healthy individuals: Age- and sex-related differences

Jeffrey X. Yu, Ahmad Hussein, Linda Mah, and J. Jean Chen 

Neurobiology of Aging. Volume 142, October 2024, Pages 41-51


Abstract:


The purpose of this study was to clarify the relationships between glycemia and function of the autonomic nervous system (ANS), assessed via resting-state functional connectivity (FC) and heart-rate variability (HRV). Data for this study were extracted from the Leipzig Study for Mind-Body-Emotion Interactions, including 146 healthy adults (114 young, 32 older). Variables of interest were glycated hemoglobin (HbA1c), resting-state FC in the salience aspect of the central-autonomic (S-CAN) and salience network (SN) and HRV (RMSSD and high-frequency HRV (HF-HRV)). HbA1c was inversely correlated with FC in the S-CAN but not SN. HbA1c was inversely correlated with HRV. Both RMSSD and log(HF-HRV) were correlated with FC in the S-CAN and SN. Age- (not sex-related) differences were observed in the Hb1Ac-FC associations (stronger in older adults) while sex- (not age-related) differences were observed in the HRV-FC (stronger in females). These findings extend the diabetes literature to healthy adults in relating glycemia and brain function. The age- and sex-related differences in these relationships highlight the need to account for the potential effects of age and sex in future investigations.

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